Brasileiros são acusados de golpes no tráfico de imigrantes

Cleyton Klier é um dos tantos brasileiros que tem o sonho de ir para os Estados Unidos, para tentar dar uma vida melhor à família. Orientado por um amigo, fez contato com outro brasileiro, chamado Romário Moreira Campos, que lhe garantiu que o levaria para realizar o sonho americano. Mas o que Cleyton não esperava, é que esse sonho se tornasse um pesadelo.

Segundo Cleyton, Romário pediu US$ 17 mil dólares para levar ele, a esposa e a filha de 12 anos para os Estados Unidos. E dizia que eles estariam no país de maneira legal.

Mas como Cleyton não tinha dinheiro para dar uma entrada, Romário aceitou o carro de Cleyton, um Ford Fusion, no qual ele juntou dinheiro por três anos para comprar. Entregou o veiculo e passou para o nome de um cúmplice de Romário, chamado André. E depois, não apenas não foi para os Estados Unidos, como ainda viu que havia perdido o carro.

Infelizmente, Cleyton é mais um que sofreu um golpe. Outras pessoas também perderam tudo o que tinham, ao confiar em Romário.

Confira o depoimento emocionado de Cleyton ao repórter investigativo Thathyanno Desa:

“Estávamos passando por muita dificuldade no Brasil. E eu tenho um amigo que viveu muito tempo aí e sugeriu que eu pudesse ir para os Estados Unidos tentar uma vida melhor. Eu até disse que tinha o sonho, mas não tinha condições de ir. E ele falou que conhecia um moço que trazia as pessoas, arrumava um jeito de colocar a gente tudo legal. E passou o meu numero para esse cara, o Romário Moreira Campos. E começamos a nos falar. Combinar uma forma de ele me levar para lá. Ele falou que era só tirar passaporte, os cartões de vacina internacionais. Conversamos o que poderíamos fazer de melhor e ele pediu uma entrada, e eu disse que não tinha nenhum dinheiro. Então ele perguntou se eu tinha alguma coisa, e eu tinha um carro. Primeiro ele falou para eu vender o carro e fazer dinheiro para dar entrada, mas como é um carro sem muito comércio, eu não conseguia vender o carro, e ele começou a me pressionar. Eu disse que não conseguia vender. Então ele disse ‘eu pego seu carro. Ele vale quanto?’. Eu disse que valia R$ 29.900. Ele disse que pagava R$ 23 mil nele como entrada e pagava todas as despesas de viagem. Falou que ia mandar o sócio para buscar o carro, e ja começou a combinar passagem. E ele falava com muita veemência, e eu acreditei nele muito. A ponto de abrir mão de toda a nossa vida aqui. Fomos no cartório e ele falou para passar o carro para o nome do cara. Ele tinha uma lábia muito boa e eu acreditei nele”, conta Cleyton.

Mas quando era a hora de Romário cumprir com o combinado, tudo mudou. “Dia 25 ou 26 de dezembro, ele falou que poderíamos ir para São Paulo, que a viagem estava marcada para 29. A gente ia ficar em um hotel perto de Guarulhos. Ele disse que íamos ficar uns dois dias, ia mandar a passagem para o telefone e já íamos partir. Passou dois, três dias, uma semana. E todo mundo começou a ficar ansioso, desesperado. Ele dizia que a passagem estava marcada, depois dizia que teve que cancelar. E com isso ficamos 15 dias em São Paulo. E tinha outras pessoas lá esperando. disse que teria que voltar para casa e aguardar. A gente já estava abalado. Discutíamos. Minha esposa tinha um trabalho bom. Ela largou o trabalho dela, eu larguei o meu. Tudo atrás desse sonho que esse cara me prometeu”, conta.

“Voltamos e ficamos aguardando. Aguardamos 15 dias, um mês, e ele só enrolando. Pedi meu carro de volta. E ele disse que ia precisar de 60 dias para devolver. Até que chegou ao ponto que ele disse que não devia nada. Me ofendeu, ofendeu minha esposa. Foi quando eu fiz a postagem no Facebook. E a partir dali, muitas pessoas me procuraram e falaram que também levaram um golpe dele”.

Segundo Cleyton, além da perda material, eles tiveram outros problemas. “A gente perdeu muito. Porque tinha a vida estabilizada. Minha esposa tinha um bom emprego, eu também. Ficamos desempregados, eu tenho que tomar remédio controlado”. “Eu confiei. Nós confiamos nele. E ele acabou com a nossa vida. Hoje nós lutamos para sobreviver”, completa.

“Estou fazendo isso para que outras pessoas não caiam no mesmo golpe. Pessoas começaram a me procurar, contando a história, que tomaram o mesmo golpe. Estou correndo risco de vida, para evitar que outras pessoas não passem por isso. Nem sei se vou conseguir esse carro de novo. Mas não quero que mais ninguém passe por isso”.

Durante a entrevista, Thathyanno mostrou áudios em que Romário deixa claro ser um coiote que trafica pessoas para os Estados Unidos. Além disso, ele ameaçou o repórter investigativo.

“Se você precisar, vem até nós, que temos quatro oficiais de investigações do crime organizado que vão receber vocês”, afirmou.

Thathyanno ainda aconselhou Cleyton e outras pessoas que pensam em ir para os Estados Unidos com a ajuda de coiotes. Ele contou detalhes de pessoas que sofreram horrores ao tentar atravessar pelo México.

“Se você ama sua família, não faça. Avise seus vizinhos, avise as pessoas, não venha desta forma. Se Deus quiser te colocar aqui, ele vai te colocar pela porta da frente, não pela porta de trás”, afirmou.

Confira a entrevista completa:

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