Delegado dá detalhes sobre o caso Rafaella Carvalho e explica a prisão do pai por porte de arma de fogo

As testemunhas do caso Rafaella de Carvalho Pereira, que acusa o pai, o presidente da Câmara de Vereadores de Campo Formoso (BA), José Alberto Carvalho Pereira, conhecido como Zé Lambão, de ter agredido ela, começarão a ser ouvidas nesta quarta-feira (22). A informação foi dada pelo delegado Felipe Néri, responsável pelo caso, em entrevista exclusiva ao repórter investigativo Thathyanno Desa.

Néri, que é delegado da Polícia Civil da Bahía há 16 anos, e há 12 é o delegado regional da coordenadoria que compõe 12 cidades, entre elas, Campo Formoso, falou sobre o caso. Foi ele, inclusive, que fez a ouvida de Rafaella na segunda-feira (13), o dia seguinte a suposta agressão.

“Rafaella tinha varias marcas no corpo. Não posso precisar o que seria, pois foi feito o corpo de delito. Feito na segunda-feira, no posto de saúde da cidade, e na terça, quando chegou o médico legista. Então ela foi submetida também ao exame de corpo de delito por um médico legista, e eles descrevem as lesões que ela teve no seu corpo. Estamos com os dois laudos descrevendo todas as agressões sofridas”, conta, afirmando que como não havia um médico legista da Polícia Civil na segunda-feira, ela passou por um exame preliminar por um médico do Sistema Único de Saúde (SUS).

O delegado, porém, não que entrar em detalhes sobre as marcas no corpo da jovem. “Não tenho como dizer, tecnicamente, o que seriam as marcas que tem no corpo da Rafaella. Só os médicos podem afirmar que tipo de lesão ocorreu. A gente encaminha para o perito, para que ele faca a análise e o laudo descreve todas as lesões com os devidos termos técnicos. Não a examinei, não olhei para o corpo dela. O médico examinou, lesão por lesão. Como foi a lesão e onde foi feita, somente o médico legista pode dizer”, destaca.

Néri conta que conhecia José Alberto de um outro caso, quando em 2016, ele foi preso em flagrante por assassinato. “Eu o conheço. Porque anteriormente a esse fato, em 2016, eu já tinha prendido José Alberto por homicídio na cidade de Campo Formoso. Ficou preso um tempo, entrou com hábeas corpus no Tribunal de Justiça da Bahia ,que o liberou para que ele respondesse ao processo em liberdade”, revela.

José Alberto, porém, foi novamente preso. Desta vez, por estar e posse e porte ilegal de arma de fogo. Segundo o delegado, ele não poderia transitar com a arma.

“A ama foi registrada no exercito como atirador. Utilizou um endereço que tem em São Paulo. Não poderia ter retirado a arma porque responde por homicídio. E como responde, a legislação é clara. Não poderia tirar o CR (Certificado de Registro) e nem tirar a arma. E para ter em vários domicílios, teria que apostilar todos os endereços no CR, o que não foi feito. Só tinha o endereço de São Paulo, então só poderia manter essa arma em São Paulo. Não poderia manter em Campo Formoso, porque não tinha o domicílio de Campo Formoso no CR dele”, explica.

De acordo com o delegado, a determinação do juiz foi pela busca e apreensão da arma, mas ao chegar na casa, nem José Alberto e nem a arma estavam no local. “Fizemos a busca na casa. Não encontramos a arma, o que em tese, ele estaria com a arma. E por volta do meio dia, chegou para entregar  a arma, o que ele não poderia fazer, porque ele não poderia portar a arma. Porte ilegal de arma de fogo. Autuado em flagrante de delito pelo porte de arma. Vimos que tinha elementos para a prisão preventiva. E essa arma foi descoberta em face da investigada por violência doméstica. A ordem do juiz não era para entregar a arma. Era para fazer a busca da arma. Ele poderia ter indicado um lugar onde estava a arma. Mas ele pegou e transitou para entregar”.

Ainda sobre a arma, o delegado explicou que ele só poderia transitar com ela, se estivesse em Santo André (SP), onde está registrada, para ir a um clube de tiro específico e voltar. Para estar com a arma na Bahia, somente se fosse exclusivamente para participar de competição esportiva.

Sobre a entrevista com os irmãos de Rafaella (confira aqui) que disseram que a jovem é mentirosa e manipuladora, o delegado disse que isso não faz diferença para as investigações. “As nossa decisões são tomadas em cima do que consta nos autos. Trabalhamos com responsabilidade e apuração isenta. A Polícia Civil não investiga pessoas. Investiga fatos. O que a vítima fez ou não, não é relevante para aquele fato. Ela foi vítima. Não estamos apurando a vida pregressa de ninguém. O objetivo é apurar a violência. Foi constatado uma arma de fogo ilegal. Foi tomada a devida providencia em relação a arma de fogo. O fato em si é o que nós apuramos e vamos encaminhar para a Justiça o que foi apurado. Se houve ou não agressão. Esse é o nosso trabalho. E não existe motivo para a agressão a uma mulher, e nós sabemos disso. Se houve a agressão, houve crime. Se não houve a agressão, não houve crime. Não pode pegar toda mulher que foi agredida neste país, e só investigar se ela tiver uma reputação ilibada, se for uma santa. Em hipótese alguma. Estamos apurando o fato e a violência. Nos compete investigar se houve a agressão”, afirmou.

“Existe várias formas de correção. Não necessariamente seja a violência física. É dever do pai educar o filho, dentro dos limites da lei. Quando ultrapassa a lei, deixa de ser a correção e passa a ser um crime”, completa.

E sobre a possibilidade de estar relacionado à polícia, já que a denúncia ocorre próxima ao período eleitoral, o delegado descarta. “Em nenhum momento, apareceu qualquer situação perto disso”, encerra.

Confira a entrevista completa de Thathyanno Desa com o delegado Felipe Néri

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