Eleições: Como uma vitória de Joe Biden pode mudar a relação entre Estados Unidos e Brasil?

Joe Biden está à frente de Donald Trump nas pesquisas de intenção de voto na eleição presidencial dos Estados Unidos. Favorito até o momento, o democrata ainda viu seu rival ser contaminado pelo novo coronavírus, o que pode favorecê-lo nesta reta final de campanha – a votação está marcada para o dia 3 de novembro deste ano.

De acordo com dois dos três especialistas, uma vitória de Biden pode mudar consideravelmente a relação entre Brasil, liderado por Jair Bolsonaro, e os EUA. Professora de Relações Internacionais na FAAP, Fernanda Magnota é uma das que acredita em uma quebra de harmonia entre as duas nações em caso de troca de poder no país norte-americano.

“Esses impactos tendem a ser profundos e delicados, porque o governo Bolsonaro buscou uma ligação estreita não com os Estados Unidos em si, mas com o governo Trump, particularmente. E quando fazemos política de governo e não de Estado, as trocas típicas da democracia podem ser um ponto de vulnerabilidade. Então, o governo democrata, em um primeiro momento, será muito crítico em relação à agenda brasileira. Existirão alguns pontos sensíveis, sobretudo ligados à questão comercial, meio ambiente, direitos sociais e como isso impacta nas cláusulas contratuais. Isso para não falar em aspectos ideológicos na visão de mundo. Hoje, o prognóstico é de que, embora exista o grupo pró-business, dos grupos de interesse de que haja a possibilidade de uma continuidade, do ponto de vista mais institucional, deve haver, sim, uma dificuldade crescente. Até porque o próprio Joe Biden e a Kamala Harris (vice) endereçaram críticas diretas ao governo brasileiro. Então, a perspectiva não é muito positiva, não”, analisa Fernanda.

Analista político da XP, Victor Scalet entende que a eleição de Joe Biden pode ter mudanças mais profundas para o Brasil, mas desde que o Senado americano passe a ser formado majoritariamente por democratas – atualmente, o Congresso dos EUA é dividido (Republicanos lideram Senado, enquanto os Democratas são maioria na Câmara). Para embasar seus argumentos, ele lembrou do primeiro debate entre os presidenciáveis, realizado na última terça-feira, 30, quando Biden mencionou o Brasil e sugeriu criar um fundo para conceder 20 bilhões de dólares para acabar com as queimadas na Amazônia. “No debate teve uma novidade: o Brasil foi um dos poucos países citados. Neste debate, por exemplo, praticamente não falaram da China, que é um tema muito importante na política americana. E o Brasil foi citado e criticado pelas queimadas na Amazônia, mas teve uma subida de tom adicional, que não havia acontecido antes. O Biden falou em fazer um consórcio de países para dar 20 bilhões de dólares para o Brasil para eles pararem de queimar a Amazônia. E, se o Brasil não parar, que o país enfrente sanções econômicas severas. Então, foi uma ameaça. Isso merece ser notado”, pontuou.

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