Estados Unidos: País congela negociações na área ambiental, e Brasil teme retaliação econômica

Quase dois meses após a Cúpula do Clima do presidente Joe Biden, as negociações sobre ambiente entre Brasil e Estados Unidos foram congeladas. A paralisação coincide com o aumento do desmatamento na Amazônia e a operação da Polícia Federal que atingiu o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

A última reunião técnica entre negociadores das administrações Jair Bolsonaro e Biden ocorreu no início de maio. Na ocasião, técnicos do Itamaraty e do Ministério do Meio Ambiente realizaram uma videoconferência com Jonathan Pershing, assessor do enviado especial para o clima, John Kerry.

O objetivo era tentar encontrar um modelo de financiamento americano para ações de preservação ambiental no Brasil. Ao final da videoconferência, os participantes acordaram que teriam uma nova conversa nas semanas seguintes, mas desde então não houve pedido de agendamento pelas partes.

O Itamaraty disse que as reuniões técnicas não são “negociações formais”, mas “exercício exploratório”. Também afirmou que não existe um “calendário predefinido” para os encontros. A embaixada dos EUA não respondeu.

De acordo com o Departamento de Estado, Blinken discutiu com França as metas climáticas do Brasil, “duplo financiamento para eliminar o desmatamento ilegal até 2030, e a necessidade de sustentar essas metas com passos concretos de implementação a curto prazo”.

Em uma série de mensagens no Twitter, o Itamaraty afirmou que os dois “trataram de prioridades convergentes das duas chancelarias: diplomacia da saúde, recuperação econômica e promoção do desenvolvimento sustentável”.

Segundo pessoas que acompanham o assunto, não houve sinalização sobre a retomada da rodada de negociações entre os auxiliares de Kerry, o Itamaraty e o Meio Ambiente.

Os números de devastação na floresta amazônica, por sua vez, têm registrado recordes, o que aumenta o ceticismo entre a equipe de Biden sobre o real comprometimento de Bolsonaro em executar sua promessa.

Maio foi o pior mês de avisos de desmatamento na Amazônia nos últimos anos, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

No período, foram emitidos alertas em uma área correspondente a 1.391 km². A piora nos índices fez Bolsonaro renovar a presença de forças militares em ações de proteção do bioma.

Nas negociações com o governo Biden, Salles vinha pedindo doações dos EUA para garantir a preservação da Amazônia. Nas últimas rodadas, ele chegou a solicitar US$ 1 bilhão para aplicação em ações de comando e controle e para pagamento de serviços ambientais. Washington vinha exigindo resultados do governo Bolsonaro antes de destinar valores maiores. Em uma primeira contraproposta, o governo Biden sinalizou com um aporte de US$ 5 milhões, valor considerado insuficiente por Salles.

Além da interrupção das negociações ambientais, os EUA têm enviado sinais que geram apreensão entre auxiliares que aconselham Bolsonaro em política externa.

As novas exigências não significam que o Brasil será necessariamente excluído do grupo de beneficiários, uma vez que a tarefa cabe ao Executivo americano. Mas, na prática, os senadores deram ao governo Biden um motivo que pode ser usado para penalizar o Brasil caso Washington julgue necessário.

 

 

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