
Diariamente, inúmeras pessoas entram nos Estados Unidos, em busca de uma vida melhor. Algumas, porém, acabam buscando a fronteira com o México, e em muitos casos, infelizmente, perdem a vida na travessia. Esse foi o caso de Lenilda Pereira Oliveira dos Santos, de 50 anos, que saiu de Vale do Paraíso, em Rondônia, mas não conseguiu completar o trajeto. O corpo dela foi encontrado uma semana após tentar realizar o caminho.
O irmão dela, Leci Pereira, conversou com o repórter investigativo Thathyanno Desa, e contou os detalhes da viagem. Lenilda saiu do Brasil no dia 13 de agosto. Partiu de Rondônia com destino a Assunção, no México, onde ficou em uma casa até o dia 5 de setembro. Estava acompanhada de três amigos de infância, que a teriam abandonado durante o percurso.
“Estava indo pelos Estados Unidos pelo México. Pelo deserto. Fazendo a travessia. Ela e mais três companheiros que eram amigos de infância. Ela chegou no meio do caminho muito longo, o sol muito quente, ela não aguentou. Os companheiros, com o guia, mandado pelo coiote, abandonaram ela no deserto. Quando ela mandou a localização, dizia que estava sozinha, com sede”, conta o irmão.
Essa não foi a primeira vez que Lenilda, que era técnica de enfermagem, tentava entrar nos Estados Unidos. “Ela quis ir pelo cai cai, foi presa e não liberaram ela. Ela ficou 90 dias presa. Aí ela voltou ao Brasil. Quando chegou, já estava devendo. E aumentou mais as dívidas dela. A gente insistiu pra ela não ir, mas ela queria ir. E ela arrumou um jeito. Na cidade tinha três pessoas que iam pelo deserto. Como eram conhecidos desde criança, falaram que iam ajudar no deserto. E ela confiou neles, Saíram juntos daqui. Ela trabalhava no hospital, conhecida, funcionária pública e foi. Com o Valmir, Rose e Roberto. Quando chegou no dia 5, foram fazer a travessia. Ela não conseguiu atravessar e abandonaram ela na estrada, dizendo que iam buscar ela. E ela ficou esperando. No dia 6, eles abandonaram ela na estrada, O último contato que eu tive com ela foi no dia 7. Ela falou que estava sozinha, que tinha dormido no mato. Pedia água. Estava com muita sede. Ela confiava que iam buscar ela. Mas abandonaram, como se fosse um animal. Diziam ser amigos e abandonaram ela”, desabafa Leci.
Ele conta que já havia feito o mesmo trajeto há cerca de 20 anos, quando foi aos Estados Unidos, e por isso, sabia que a irmã não estava preparada para o que iria enfrentar. “Ela cansou. Ela desmaiou, enrolou a língua. Porque é muito quente esse deserto. Eu sabia que ela não ia aguentar, por isso que eu insisti para ela não ir, mas ela queria ir para a América dar uma vida melhor pra minha mãe e para as duas filhas dela, que fazem faculdade. Ela que fossem buscar ela. Mas ninguém foi buscar. Ela mandava áudio para Rose, pedindo água. Eu mandei áudio pra ela, e ela dizia que estava sozinha, mas que estava bem, para não assustar a gente. Eu mandava mensagem e ela não respondia mais. A filha dela rastreava ela pelo GPS até as 17h08. Acredito que ela já sabia que ia morrer, e mandou a localização. E nisso, minha sobrinha dizia ‘a mãe não está andando’. Eu liguei na casa em Assunção, falei com um colega meu, que já foi abandonado. Eu dizia, arruma alguém e manda prender ela, porque eu preferia ela presa, com vida, do que solta morta”, contou.
Leci chegou a ser informado que a irmã havia sido presa, o que deu tranquilidade. No outro dia, porém, um irmão avisou que havia entrado em contato com a polícia, e que ela não estava presa. Foi quando começaram as buscas. O corpo de Lenilda foi encontrado na última quarta-feira, dia 15, por uma patrulha norte-americana em uma área desértica ao Sul de Deming, no Novo México. “Foi muito difícil. Por favor, não façam isso. Se tivéssemos um país melhor, nada disso teria acontecido”, disse o irmão, que contou que nas buscas, a polícia também encontrou o corpo de um homem. “Não venham pelo México. Não vale a pena. Eu tenho falado e as pessoas não levam a sério, Fronteira não é brincadeira”, completou Thathyanno.
O irmão também fez um desabafo contra os companheiros de Lenilda. “Um animal que é abandonado é um crime. Imagina um ser humano. Vocês conseguem colocar a cabeça no travesseiro e dormir? Desde que eu recebi essa notícia, eu não sei o que é comer. Mas quando eu recebi a notícia da minha irmã, eu liguei para eles e eles estava em New Jersey comemorando a chegada deles. Mas como vocês conseguem dormir sabendo que abandonaram ela. Eu morei na América, eu amo a América. Mas se nós tivéssemos um país melhor, ninguém ia querer sair. Nosso país é rico. Mas é o mais corrupto. Minha irmã era uma mulher formada. E precisou sair para ganhar um salário digno. Nosso país não dá condições de sobreviver com dignidade. O corpo está no IML. Não sabemos quando vai sair a perícia, porque está marcado como cena de crime. Por isso vai demorar. Pode demorar até 40 dias ou mais. A gente sofre todo dia. Enquanto isso, parabéns ao Valmir, a Rose e o Roberto, que estão na América, tomando uma cervejinha e ganhando dinheiro. Nós não temos mais lágrimas para chorar. Ela acreditava que alguém ia buscar ela. Ela morreu pedindo socorro”, disse.
Thathyanno ainda exibiu alguns áudios enviados Lenilda quando esperava por ajuda. “Não aguentei. Estou sozinha, mas estão vindo me buscar”. “Estou escondida, manda trazer uma água para mim, que eu não estou aguentando de sede”. “Eu vim direto, atravessei a cerca e vim direto. Estava embaixo da rede de energia e atravessei a rede”, disse, nos áudios.
“Ela acreditava que alguém ia buscar ela. Ela morreu pedindo socorro”, completou o irmão. “Na nossa região está todo mundo de luto com ela. Eu não culpo o coiote, ele faz o trabalho dele. Ele não obriga ninguém pra ir aos EUA. Mas eu não entendo os colegas dela, como fazem isso. Largam um ser humano pra trás”.
Thathyanno falou também com a mãe de Lenilda, dona Irene Pereira da Silva. “É triste, Um momento que a gente não quer nem falar. Estamos em um velório sem corpo. Minha filha queria dar uma vida melhor e aconteceu esse problema. Porque o nosso Brasil está triste. Agora ela foi encontrada morta neste deserto. Os amigos dela deixaram ela para trás. Queria dar uma vida melhor para as filhas e para mim. Ela falou ‘mãe eu vou, se Deus quiser, vou para os Estados Unidos para dar uma vida melhor para eu cuidar da senhora e das minhas filhas’. Ela dizia que em cinco anos ia estar de volta, para fazer o meu aniversário de 75 anos. E a tristeza que eu tenho é saber que a minha filha morreu de sede”, contou.
Por fim, Leci deu um recado a quem pensa em atravessar a fronteira pelo deserto. “Não faça isso. Hoje eu perdi a minha irmã. Amanhã vai ser outra pessoa. Pode ser alguém da sua família. Nossa família está sofrendo. Estamos tendo um velório todo dia até a minha irmã voltar. Estados Unidos é o sonho de todo brasileiro, mas não é assim para chegar lá. Vamos lutar para que o nosso país vire um Estados Unidos, assim ninguém vai precisar sair daqui”.
Que triste
Amigos ratão do queijo;(
Amigo somente Deus 🙂
Aqui os mesmos contemporâneo matam os irmãos brasileiros
Brasileiro não tem união *
Sem ofender
Estou indignada com isso
DEUS reconforte o coração dessa família *
Meus sentimentos
Tb sou trabalho na Área Médica e estou triste, sem palavras
Obrigado ..obrigado por deixar expressar nossos sentimentos