Ministério suspende veiculação de filme que faz apologia à pedofilia

O filme Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola teve sua veiculação suspensa pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública nesta terça-feira (15) por apologia ao crime de pedofilia. Em uma cena do longa escrito por Danilo Gentili, o personagem de Fábio Porchat chantageia os garotos protagonistas propondo favores sexuais, o que faz com que a dupla saia correndo enojada.

O ministro Anderson Torres determinou que Netflix, Telecine, Globoplay, YouTube, Apple e Amazon suspendam “a disponibilização, exibição e oferta do filme”. A motivação seria para garantir “a proteção à criança e ao adolescente” do conteúdo do filme. As plataformas têm cinco dias para cumprir a decisão, caso contrário serão multadas em R$ 50 mil por dia que a produção continuar disponível.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP) compartilhou o trecho em seus perfis no Instagram e no Twitter. “Na cabeça de um esquerdopata, progredir é aceitar a pedofilia. Para tanto, eles vão tentando botar isso na sua cabeça suavemente, sem que você perceba”, escreveu o parlamentar.

Outros políticos e autoridades ligados ao bolsonarismo também se manifestaram sobre o vídeo. Entre eles, a deputada Carla Zambelli (União Brasil-SP) e o secretário da Cultura, Mário Frias. “A explícita apologia ao abuso sexual infantil protagonizada pelo Fábio Porchat no filme em cartaz na Netflix é uma afronta às famílias e às nossas crianças. Utilizar a pedofilia como forma de “humor” é repugnante! Asqueroso!”, escreveu Frias.

O delegado da Polícia Federal e diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, afirmou que “as ações objetivando uma normalização da pedofilia buscam destruir a moral e os valores norteadores das relações e condutas em sociedade”.

Para a psicóloga Manoela de Oliveira Lainetti, que trabalha há 15 anos na área de direitos humanos, principalmente com crianças e adolescentes vítimas de violências e em situação de risco pessoal e social, uma cena como a retratada no filme é “desaconselhável” em qualquer circunstância, sendo um filme de comédia ou não.

A psicóloga avalia que a forma com que o abuso sexual foi exposto no filme pode prejudicar o entendimento de crianças e adolescentes sobre o que é violência sexual — pedir “favores” sexuais, como a masturbação, por exemplo, se enquadra nessa categoria. “A cena pode confundir uma criança no entendimento do que é violência porque normaliza a questão”, analisa a Mestre em Psicologia Social e especialista em Psicologia Jurídica. “E isso se torna mais complexo quando é protagonizada por pessoas que são formadoras de opinião, que são ídolos de muitas pessoas”, diz, em referência à atuação de Fabio Porchat no longa.

A compreensão de que está sendo vítima de um crime sexual, dizem especialistas, já é mais difícil para menores de idade quando não há a intervenção ou conhecimento de outro adulto sobre a questão. Para ela, o fato de a violência sexual contra crianças e adolescentes ser considerada problema de saúde pública —números indicam que, considerando apenas o registro feito em canais oficiais do Governo, uma menina de até 14 anos é violentada a cada duas horas no país— não pode fazer com que o tema seja banalizado no meio audiovisual.

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