Com o queixo no peito e olhar manso, Marcel Maldonado, um técnico em processamento de dados, é um dos 7,7 milhões de venezuelanos — 25% da população, segundo a ONU — que deixaram a Venezuela desde 2014, um país rico em petróleo imerso em uma severa crise política, econômica e social há anos.
Em uma década, Marcel viu o PIB de seu país encolher 80%. Na Venezuela, “eu imaginava uma vida de miséria, que é o que minha família está vivendo”, explica.
Ele queria um futuro diferente para sua esposa e seu filho. Ele também temia não poder substituir a prótese que usa desde que perdeu a perna em 2014, quando sua moto foi atingida por um carro.
Marcel Maldonado, com sua esposa, Andrea e seu filho, Samuel, na cidade do México. Foto: Reprodução/ Victor Mendiola.
De frente, na selva do Darién, com um pistoleiro apontando a arma para ele, Marcel Maldonado lembrou do aviso de sua mãe sobre o perigo de emigrar para os Estados Unidos. Ele pensou que morreria na densa selva tropical — rota perigosa para milhares de imigrantes rumo ao norte.
Sequestrado por criminosos em Darién, que separa a Colômbia do Panamá, o venezuelano de 30 anos, com uma perna amputada, lembrou do medo de sua mãe de que ele fosse atacado por feras ou criminosos. “Aqui não vão nem encontrar meu corpo”, pensou.
Ele chegou a Darién alguns dias depois de deixar a Venezuela no dia 15 de setembro com sua esposa Andrea, 27, e seu filho adotivo Samuel, 8. Foi um dos piores momentos em seu êxodo de quase dois meses através de nove países.
Durante essas semanas, mais de 15 jornalistas da AFP na Venezuela, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, México e Estados Unidos acompanharam a jornada de Marcel de 4.300 quilômetros de ônibus, a pé ou de balsa, com uma bengala na mão.
O imigrante venezuelano Marcel Maldonado descansando em abrigo em Puntarenas, na Costa Rica. Foto: Reprodução. Ezequiel Becerra – /AFP
Para pagar pela viagem, ele vendeu pertences de valor que havia juntado com sua esposa durante quatro anos no Peru, para onde emigraram primeiro em 2019. Seu pai também vendeu seu carro para ajudá-los.
Deixou para trás, em Maracay, Venezuela, a casa meio construída, uma família desfeita e, em um velho armário, roupas de Marcel que sua mãe Doraida Medina costuma cheirar para se lembrar dele.
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