A história de um homem: 38 anos de injustiça nos EUA

Krishna Maharaj, falecido em 5 de agosto, passou mais de 30 anos encarcerado nos EUA por um crime que não cometeu
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA

“Eu sou inocente.”

Por 38 anos, o britânico Krishna Maharaj clamou sua inocência em tribunais, na mídia e para seus advogados. Durante esse tempo, ele passou os dias em uma penitenciária na Flórida, condenado pelos assassinatos de dois homens em Miami em 1986.

Apesar de um juiz ter reconhecido evidências que poderiam provar sua inocência — apontando que os crimes tinham sido cometidos por integrantes do Cartel de Medellín, sob o comando de Pablo Escobar — Maharaj nunca conseguiu conquistar sua liberdade.

“Quando soube da condenação à morte, desmoronei no tribunal”, recordou Maharaj em uma entrevista em 2019. “Era inimaginável para mim ser condenado por um crime que não tinha cometido e do qual nada sabia.”

O advogado Clive Stafford Smith transformou a pena de morte em prisão perpétua e, posteriormente, conquistou um veredicto que declarou Maharaj inocente do crime. Contudo, a liberdade ainda lhe escapa. “O tribunal afirmou que, apesar das evidências convincentes da inocência de Maharaj, elas não eram suficientes para libertá-lo”, explicou Stafford.

foto, Clive Stafford Smith, advogado defensor de direitos humanos, assumiu o caso de Maharaj em 1993

Clive Stafford Smith, advogado defensor de direitos humanos, assumiu o caso de Maharaj em 1993

Atualmente, sua esposa, Marita, e Stafford estão em busca de retornar seus restos mortais ao país natal. Em 16 de outubro de 1986, o jamaicano Derrick Moo Young e seu filho Duane foram encontrados mortos em um quarto do DuPont Plaza Hotel, em Miami, ambos com ferimentos a bala. Uma investigação subsequente levou à acusação de Kris Maharaj.

Maharaj, um britânico de ascendência indiana, tornara-se milionário no comércio de importação de bananas e estava em litígio com Moo Young. De acordo com as autoridades, ele agendou um encontro com Moo Young no hotel, onde, segundo um único depoimento, teria atirado nos dois. O motivo, segundo a polícia, seria uma disputa sobre dinheiro que Moo Young havia roubado de parentes de Maharaj em Trinidad. Ele foi preso, acusado de duplo homicídio, e em menos de um ano, recebeu a sentença de morte, algo que considerou impensável. “Não estive lá. Seis testemunhas provaram que eu estava a mais de 30 km do hotel naquele dia. Era inacreditável que me condenassem”, disse Maharaj em 2019.

Eu sou inocente“, insistia.

Seis anos se passaram, marcados por tentativas frustradas de provar sua inocência e evitar a execução, até que, em 1993, Stafford, um advogado e defensor dos direitos humanos, decidiu assumir o caso.

Cartel de Medellín

A primeira ação de Stafford foi recorrer da pena de morte, conseguindo, em 2002, uma nova condenação de prisão perpétua. A seguir, concentrou-se em demonstrar a inocência de Maharaj.

O crime ocorreu nos anos 80, em meio à intensa atividade do tráfico de drogas em Miami, especialmente em um cenário de rivalidade entre cartéis colombianos e narcotraficantes cubanos. Stafford descobriu que Moo Young era um associado do tráfico e que sua execução estava diretamente ligada ao Cartel de Medellín, sob ordens de Pablo Escobar.

“Viajei até Medellín para buscar ex-membros do cartel que pudessem testemunhar em favor de Maharaj, indicando sua inocência”, contou Stafford.

Nos anos seguintes, o advogado procurou estabelecer um novo julgamento baseado nas evidências coletadas, que apontavam outras motivações por trás do assassinato de Moo Young e, especialmente, nas várias testemunhas que confirmavam onde Maharaj realmente estava.

Maharaj foi condenado à morte em 1987, mas em 2002 sua sentença foi alterada para prisão perpétua

Entretanto, todos os pedidos de clemência e apelações foram rejeitados. “É patético o fato de o governo federal [norte-americano] não estar disposto a considerar as provas para libertar um homem inocente”, concluiu Stafford.

 

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