Investigação revela relação entre Hotéis do PCC e movimentação da Cracolândia em São Paulo

Análise da Polícia Civil indica que a escolha das ruas ocupadas pela Cracolândia está estrategicamente ligada a hotéis clandestinos operados pelo PCC, facilitando o tráfico de drogas e a distribuição de entorpecentes.
Por Schirley Passos|GNEWSUSA

Uma investigação da Polícia Civil revelou que a escolha das ruas ocupadas pela Cracolândia em São Paulo está diretamente ligada a hotéis clandestinos administrados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa responsável pelo tráfico de drogas na região central da cidade.

Há pouco mais de dois anos, a área ao redor da praça Júlio Prestes, tradicionalmente ocupada por aglomerações de usuários de drogas, foi esvaziada, e a Cracolândia se deslocou para a praça Princesa Isabel.

Desde então, a movimentação dos dependentes químicos e traficantes passou a se concentrar em pelo menos oito vias diferentes, todas próximas a hospedarias clandestinas associadas ao PCC. O Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) cruzou endereços de hotéis usados para esconderijo de drogas com a movimentação dos usuários, identificando ao menos dez pessoas envolvidas no esquema.
A imagem mostra trabalhadores usando uniformes laranjas, operando uma máquina escavadeira que está levantando um bloco de concreto em frente a hospedaria Hospedaria na alameda Barão de Piracicaba, em Campos Elísios, é emparedada durante megaoperação policial. Foto: Danilo Verpa.

Segundo o delegado Fernando Santiago, da 4ª Delegacia de Investigação Sobre Entorpecentes do Denarc, “não tem como existir a Cracolândia sem as hospedarias”.

A investigação apontou que a praça Princesa Isabel fica a cerca de 160 metros de dois hotéis adquiridos pelo PCC um mês antes da mudança da Cracolândia. Esses imóveis, emparedados pela prefeitura cinco meses antes do deslocamento da Cracolândia, servem como esconderijos de drogas, pontos de encontro de traficantes e locais de reuniões para o tribunal do crime, um sistema paralelo de justiça mantido pelo crime organizado.

Marcelo Carames, conhecido como Mau e líder do esquema, foi identificado como suposto responsável pelos hotéis na região. Além das hospedarias próximas à praça Princesa Isabel, os mesmos acusados também adquiriram outros dois hotéis na avenida São João.

Após uma ação policial que esvaziou a praça Princesa Isabel, os dependentes migraram para a rua dos Gusmões, onde três hotéis e um ferro-velho ligados ao PCC foram identificados.

O delegado Santiago explicou que a proximidade dos hotéis com a Cracolândia é estratégica para a distribuição de entorpecentes. Os “vapores”, dependentes que transportam e vendem drogas, obtêm as porções em esconderijos próximos aos hotéis, como galerias de esgoto e lixeiras. “Se forem pegos, podem alegar ser usuários pela pequena quantidade de droga e são liberados”, disse o delegado.

O método de operação dos hotéis, onde não são exigidos documentos de identificação dos frequentadores, também facilita a atividade ilícita. A alternância de ocupação e gerenciamento torna quase inviável a elaboração de mandados de apreensão, devido à dificuldade de identificar os responsáveis e os endereços exatos.

As investigações do Denarc, iniciadas em junho de 2023, resultaram no fechamento de 28 hotéis em uma operação policial realizada em junho deste ano. Parte das informações foi incluída em uma denúncia do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, que levou a uma megaoperação na região central no início deste mês, resultando na interdição de 44 imóveis, incluindo pensões e hotéis clandestinos.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou em nota que todos os endereços foram lacrados por agentes municipais e que qualquer descumprimento de ordem judicial resultará em nova interdição, com os responsáveis sendo levados ao Distrito Policial.

No entanto, o delegado Santiago informou que a Justiça negou os pedidos de prisão preventiva dos envolvidos, que só poderão ser solicitadas ao fim do inquérito policial. As investigações continuam.

Leia também:

CBF fortalece Protocolos de Segurança Cardíaca no Futebol

Clubes e jogadores se manifestam sobre a morte de Juan Izquierdo

México suspende relações com a embaixada dos EUA em resposta a críticas sobre reforma judicial

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*