Chuvas torrenciais devastam o país, interrompendo comunicações e deixando dezenas de desaparecidos; chefe da junta militar faz raro pedido de ajuda internacional.
O número de mortes causadas pelas inundações em Mianmar, resultantes do tufão Yagi, subiu para pelo menos 113 até a noite de sábado (14), segundo informações divulgadas pela junta militar no domingo (15). Além disso, pelo menos 320 mil pessoas foram deslocadas e 64 permanecem desaparecidas, de acordo com o porta-voz do governo, Zaw Min Tun.
“As operações de resgate estão em andamento”, afirmou o governo. O tufão Yagi, a tempestade mais forte a atingir a Ásia em 2024, também deixou centenas de mortos no Vietnã e na Tailândia, além de causar estragos significativos em outros países, como Filipinas, China e Laos.
As inundações em Mianmar começaram na segunda-feira anterior, resultando em 74 mortes até sexta-feira, conforme relatado pela mídia estatal. O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) informou que as regiões centrais de Mianmar, como a capital Naypyitaw e as áreas de Mandalay, Magway e Bago, estão entre as mais afetadas. Além disso, os estados de Shan, Mon, Kayah e Kayin também sofreram graves impactos.
O número exato de vítimas é difícil de determinar devido aos danos causados à infraestrutura, que prejudicaram as linhas telefônicas e o acesso à internet. Segundo informações oficiais, cinco barragens, quatro templos e mais de 65 mil casas foram destruídas pelas enchentes.
Budistas têm dificuldade para atravessar uma área alagada até cerca do joelho. Foto: Sai Aung Main.
Cerca de um terço da população de Mianmar, que soma 55 milhões de habitantes, necessita de assistência humanitária. No entanto, várias agências de ajuda, como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, enfrentam restrições de acesso devido a riscos de segurança e limitações impostas pelo governo militar.
Em um ato incomum, o chefe da junta militar que governa Mianmar fez um pedido de ajuda internacional para lidar com as consequências das inundações. Historicamente, o regime tem restringido a entrada de ajuda externa. No ano passado, a junta suspendeu autorizações de viagem para grupos que buscavam auxiliar 500 mil pessoas afetadas por um ciclone que devastou o oeste do país, uma decisão criticada pela ONU.
Super tufão Yagi, nas Filipinas. Foto: Jam Sta Rosa.
A crise humanitária causada pelo tufão Yagi se soma à já precária situação política e de segurança em Mianmar, agravada desde o golpe militar de fevereiro de 2021, que derrubou o governo civil eleito liderado por Aung San Suu Kyi, laureada com o Nobel da Paz.
Desde o golpe, mais de 4.800 manifestantes e prisioneiros políticos foram mortos, e 26,5 mil pessoas foram presas, conforme dados da Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos da Birmânia. Além disso, cerca de 2,7 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas devido ao conflito interno.
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