
Veja o que os investidores podem esperar das decisões do Fed e do Banco Central do Brasil
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA
Setembro chega e, com ele, nos acercamos do aguardado momento dos juros em 2024: o primeiro corte da taxa Fed Funds pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. Neste ponto, não há dúvidas de que o que se desenha é uma redução da taxa, restando apenas discutir a magnitude do corte, se de 25 ou 50 pontos base.
Enquanto isso, no Brasil, o cenário é menos consensual em torno de uma possível alteração na Selic pelo Banco Central. Na última terça-feira, dia 3, a curva de juros indicava mais de 60% de probabilidade de um aumento de 0,5 ponto na taxa, mesmo com o presidente Roberto Campos Neto afirmando que qualquer ajuste iria ocorrer de maneira gradual.
Diante desse cenário, uma das perguntas mais frequentes que recebemos, especialmente de investidores que buscam oportunidades no exterior, é sobre o futuro do dólar. A resposta está ligada ao conceito de diferencial de juros.
De forma resumida, se considerarmos um cenário hipotético em que tudo permaneça inalterado, a alta relativa da Selic em comparação aos juros americanos (independente de uma possível elevação pela autoridade monetária brasileira) tende a favorecer a valorização da moeda nacional.
Os treasuries, títulos da dívida americana, são vistos como o investimento mais seguro do mundo e fundamentam a precificação de todos os demais ativos globais. O mercado exige retornos maiores para compensar o risco, tendo como referência a taxa de juros dos EUA.
Quando a taxa americana diminui, a rentabilidade dos treasuries cai. Consequentemente, um número maior de investidores pode se sentir incentivado a buscar retornos mais altos em ativos com maior risco, como os brasileiros. Se a Selic aumentar, o retorno da renda fixa no Brasil se torna ainda mais atrativo. Essa maior demanda por ativos brasileiros pode resultar em um fluxo positivo de dólares para o país, o que, por sua vez, tende a valorizar nossa moeda.
Mas é possível afirmar que o dólar deve cair? Não é tão simples. Ambos os bancos centrais estão atentos aos dados futuros de inflação e atividade antes de decidirem sobre os ajustes nas taxas de juros, o que gera incerteza e pode resultar em volatilidade. Um dado crucial será o relatório de geração líquida de empregos de agosto, conhecido como payroll, que havia gerado temores de recessão há aproximadamente um mês. Resultados abaixo das expectativas podem reavivar a discussão sobre um corte de juros prematuro, alterando o equilíbrio de riscos e aumentando a volatilidade.
Além disso, há muitos aspectos em jogo além do diferencial de juros. Em agosto, o Ibovespa se beneficiou da expectativa de queda nas taxas de juros nos EUA, apresentando uma alta de 7,6% no mês, impulsionada por um fluxo estrangeiro superior a R$ 9 bilhões. Contudo, o dólar encerrou o mês em R$ 5,63, praticamente estável em relação ao mês anterior, mesmo após intervenções do Banco Central para conter a volatilidade.
Entre os fatores que merecem atenção estão as eleições nos Estados Unidos, as tensões geopolíticas em diversas regiões do mundo, a possibilidade de recessão nos EUA ainda não descartada e a situação da dívida pública tanto no Brasil quanto nos EUA, entre outros. Portanto, para os brasileiros, é crucial manter uma parte de seus investimentos dolarizados de forma estrutural, servindo como uma proteção contra a volatilidade da moeda local.
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