Após sete anos, Tocantins registra morte por raiva humana; família relata falhas no atendimento

Foto: Arquivo pessoal
Comerciante de Alvorada é infectado após mordida de cachorro e morre após 20 dias de internação.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

Depois de um período de sete anos sem registros de contaminação por raiva humana no Tocantins, o estado enfrenta um caso trágico que culminou na morte do comerciante Gilmar Sampaio da Silva, de 50 anos. A infecção ocorreu na cidade de Alvorada, no sul do estado, após o homem ser mordido por um cachorro em sua propriedade rural.

Contaminação em fazenda levanta alerta para cuidados com animais errantes

De acordo com relatos da família, Gilmar foi mordido no dia 2 de outubro enquanto tentava capturar um cachorro que havia aparecido em sua fazenda. A intenção era levar o animal à cidade para que fosse adotado, mas, ao tentar colocá-lo na caminhonete, o comerciante foi atacado. Poucos dias após o incidente, todos os cães da fazenda desapareceram, levantando suspeitas sobre um possível surto de raiva na região.

Sintomas confundidos com AVC dificultaram diagnóstico

Cerca de 15 dias após a mordida, Gilmar começou a apresentar sintomas que inicialmente sugeriam um quadro gripal. Em seguida, desenvolveu dificuldades de locomoção e fala, o que levou à suspeita de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Exames clínicos, no entanto, não confirmaram a hipótese, e os sintomas se intensificaram.

Foi apenas após uma consulta com um neurologista que o episódio da mordida foi mencionado, levantando a possibilidade de contaminação por raiva. Nesse ponto, os sintomas já estavam avançados, o que dificultou o tratamento.

Falhas no atendimento inicial são investigadas

A família relatou que, após a mordida, Gilmar procurou atendimento no Hospital Regional de Alvorada, mas não recebeu a vacina antirrábica, essencial para prevenir o desenvolvimento da doença. Segundo o sobrinho Roberto Sampaio, o paciente foi apenas orientado a lavar o ferimento e aplicar uma pomada comprada em farmácia. A falta de profilaxia adequada nas primeiras horas pode ter sido um fator decisivo para o desfecho fatal.

A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) afirmou que não foi notificada sobre o atendimento recebido por Gilmar na ocasião e destacou que não compactua com práticas que desrespeitem os protocolos de atendimento humanizado.

Internação e tentativa de tratamento com protocolos internacionais

Após o agravamento do quadro, Gilmar foi internado no dia 22 de outubro em Gurupi, onde passou a ser tratado com protocolos específicos para raiva humana, incluindo o uso de medicamentos norte-americanos. A equipe médica seguiu orientações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), de Atlanta, nos Estados Unidos.

Embora os médicos estivessem esperançosos devido à estabilidade dos sinais vitais do paciente, incluindo uma saturação de oxigênio de 100% e pressão arterial controlada, Gilmar apresentou uma piora repentina após o aumento da dose dos medicamentos. Após 20 dias de internação, ele não resistiu e faleceu no domingo, 10 de novembro.

Governo reforça vacinação contra raiva após caso confirmado

Diante da morte, o governo estadual intensificou as ações de imunização no município de Alvorada. Equipes técnicas da Agência de Defesa Agropecuária (Adapec) e da SES foram enviadas à cidade para avaliar os riscos de novas contaminações. Segundo a SES-TO, foi emitido um ofício circular a todas as secretarias municipais de saúde com orientações sobre a raiva, além de um reforço nas campanhas de vacinação animal.

A vacinação antirrábica no Tocantins havia sido realizada entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, atingindo uma cobertura de 85% com mais de 303 mil animais vacinados. A recomendação agora é que os municípios ampliem essa cobertura até alcançar 100%.

Raiva humana: uma doença rara e altamente letal

A raiva é uma infecção viral com quase 100% de taxa de letalidade quando não tratada imediatamente após a exposição. O vírus pode ser transmitido pela saliva de mamíferos infectados, como cães, gatos, morcegos, e outros animais. No caso de Gilmar, a Secretaria de Saúde identificou a variante AgV 3, normalmente transmitida por morcegos hematófagos.

A profilaxia antirrábica, que inclui a administração de vacinas e imunoglobulina, é crucial nas primeiras horas após a exposição ao vírus. A SES-TO reforça a importância de um atendimento rápido e adequado para pessoas mordidas por animais suspeitos.

Nota oficial da Secretaria de Saúde do Tocantins

Em nota, a SES-TO reiterou que emitiu comunicados para todos os secretários municipais de saúde com informações sobre o caso de raiva em Alvorada, além de instruções para a intensificação das campanhas de vacinação. A secretaria também encorajou o uso da Ouvidoria do SUS para relatar falhas no atendimento e garantiu que investigações serão conduzidas caso denúncias sejam formalizadas.

Os contatos para a Ouvidoria são (63) 3218-2025 ou 0800 64 27200. Denúncias podem ser feitas de forma anônima e confidencial.

A tragédia traz à tona a necessidade de prevenção

O caso de Gilmar Sampaio da Silva é um triste lembrete da importância da imunização e do atendimento imediato em situações de mordida por animais. A comunidade local e autoridades de saúde estão agora em alerta máximo para evitar novos casos e proteger a população do Tocantins.

  • Leia mais:

https://gnewsusa.com/2024/11/viktor-gyokeres-artilheiro-do-sporting-pode-custar-ate-70-milhoes-de-euros-ao-barcelona/

https://gnewsusa.com/2024/11/atletico-mg-identifica-mais-de-20-envolvidos-em-confusao-na-final-contra-o-flamengo-e-anuncia-punicoes/

https://gnewsusa.com/2024/11/homem-bomba-deixou-sinais-e-se-despediu-de-vizinhos-antes-do-atentado-ao-stf/

 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*