
Endurecimento das políticas migratórias e ações policiais na França aumentam os riscos das travessias; migrantes enfrentam condições desumanas em Calais enquanto buscam um futuro seguro.
Por Schirley Passos|GNEWSUSA
O Canal da Mancha se tornou um cenário cada vez mais perigoso para migrantes que tentam cruzá-lo rumo à Inglaterra. Em 2024, pelo menos 75 pessoas, incluindo 13 crianças, perderam a vida na tentativa de realizar a travessia, configurando o ano mais letal desde que os registros começaram, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). O recorde anterior era de 2019, com 50 vítimas.
Esse aumento na letalidade está relacionado a um endurecimento das políticas imigratórias e à intensificação das operações policiais na França, especialmente na região de Calais, ponto de partida para a maioria das travessias. Migrantes relataram ações da polícia francesa como rasgar botes infláveis e criar ondas para impedir a saída das embarcações, colocando vidas em risco.
Histórias de luta e resistência
Entre os migrantes está Shahab, um iraniano de etnia curda, de 26 anos, que vive em Calais com sua mãe, tio e dois irmãos, incluindo um menino de seis anos. Ele relatou que o bote em que sua família estava foi interceptado e danificado. “Nosso barco explodiu”, disse Shahab, gesticulando para descrever o momento. “Nem cachorros são tratados assim.”
A situação em Calais continua precária. Migrantes enfrentam operações regulares de remoção de barracas pela polícia. Porém,“Isso não impede a travessia; só força as pessoas a tentar mais rápido”, comenta Shmash, voluntário da ONG Calais Food Collective, que fornece alimentos e água para os refugiados.
Dados alarmantes e a complexidade da crise migratória
Desde 2018, mais de 148 mil pessoas conseguiram completar a travessia pelo Canal, mas centenas de milhares tentaram sem sucesso. Em 2024, a rota do Canal da Mancha já registrou 62.125 tentativas de travessia, um aumento de 6% em relação ao ano anterior. A Frontex, agência europeia de fronteiras, aponta que, embora as apreensões de imigrantes tenham diminuído em 40% na Europa como um todo, o Canal da Mancha segue na contramão da tendência.
A repressão nas fronteiras, impulsionada por discursos políticos de extrema direita, não tem diminuído os fluxos migratórios. Pelo contrário, os riscos aumentam, e os preços cobrados por coiotes se tornam ainda mais altos. “As pessoas continuarão migrando. O processo precisa ser mais seguro e digno”, afirma Jorge Galindo, do Centro de Análise de Dados da OIM.
A necessidade de uma abordagem humanitária
Especialistas destacam que os fluxos migratórios são impulsionados não apenas por guerras e perseguições, mas também pela precariedade econômica e pelas mudanças demográficas. “A Europa precisa de imigrantes para suprir sua força de trabalho, mas transforma a imigração em algo desumano”, ressalta Rosana Baeninger, professora da Unicamp.
Enquanto a crise persiste, histórias como a das irmãs afegãs Azizi, que fugiram do Talibã e agora enfrentam incertezas em Calais, evidenciam a urgência de soluções que preservem a dignidade e a segurança de quem busca um futuro melhor.
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