Policiais militares são presos por extorsão a ambulantes no Brás

Policiais militares cobravam até R$ 15 mil anuais para permitir a permanência de comerciantes na região. Vítimas, em sua maioria imigrantes, recorriam a agiotas para pagar as taxas.
Por Schirley Passos|GNEWSUSA

Cinco policiais militares e outras quatro pessoas foram presos em uma operação que investiga a extorsão de comerciantes no Brás, tradicional polo de comércio popular em São Paulo. A investigação, que começou em março deste ano, aponta que o esquema vinha funcionando pelo menos desde o ano passado.

Os policiais exigiam pagamentos periódicos dos vendedores ambulantes para que pudessem manter suas atividades. Quem se recusava a pagar era intimidado, expulso da região ou tinha suas mercadorias apreendidas.

Os valores cobrados chegavam a R$ 15 mil por ano ou cerca de R$ 300 por semana. Segundo o coronel Fábio Sérgio do Amaral, porta-voz da PM, o grupo agia com uma estrutura organizada, caracterizando-se como uma “verdadeira organização criminosa”.

A atuação do grupo

As intimidações eram realizadas durante rondas policiais, mas as extorsões aconteciam, em grande parte, nos momentos em que os policiais estavam de folga.

Além dos PMs, outras pessoas ligadas a supostas cooperativas e associações de ambulantes também participaram do esquema Reação das autoridades

O coronel Fábio Sérgio do Amaral destacou a complexidade e a organização do esquema criminoso, reforçando que as ações praticadas pelos policiais detidos iam além do simples abuso de autoridade.

Segundo ele, a estrutura envolvia hierarquia, distribuição de tarefas e controle rigoroso dos pagamentos feitos pelos comerciantes.

O promotor Carlos Gaya, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), também ressaltou que o esquema utilizava cooperativas e sindicatos falsos como fachada para legitimar as cobranças.

“Eles agiam como se estivessem protegendo os ambulantes, mas na verdade era uma forma de oprimir e extorquir. Isso gerava um ciclo de endividamento e violência, especialmente entre os imigrantes vulneráveis que trabalham na região”, afirmou o promotor.

Impacto nas vítimas

Os comerciantes extorquidos relataram medo constante e dificuldades financeiras agravadas pela necessidade de buscar dinheiro com agiotas. Para muitos, as cobranças ilegais comprometeram completamente seus negócios.

“Além de serem obrigados a pagar quantias abusivas, eles enfrentavam represálias caso atrasasse os pagamentos, o que incluía ameaças, agressões e até roubo”, explicou o coronel Amaral.

De acordo com as investigações, o ciclo de violência gerado pelo esquema não apenas enriquecia os envolvidos, mas também criava um ambiente de terror para os comerciantes, que tinham receio de denunciar por medo de represálias.

Busca por novas vítimas e desdobramentos

Durante as investigações, os promotores encontraram documentos, como planilhas de controle, que indicam a existência de um número significativo de vítimas que ainda não procuraram as autoridades.

O Ministério Público pediu a colaboração dos comerciantes que sofreram extorsão para que procurem as autoridades e façam suas denúncias.

As vítimas estão protegidas, e nossa prioridade é garantir que os responsáveis sejam responsabilizados”, garantiu Gaya.

Além disso, novos mandados de busca, apreensão e prisão devem ser cumpridos nos próximos dias, visando desmantelar completamente o esquema.

O trabalho de rastreamento das contas bancárias e das movimentações financeiras do grupo segue em andamento, com apoio da Justiça e de órgãos fiscais.

Os investigadores acreditam que, com a continuidade das diligências, será possível identificar outros envolvidos e estimar com maior precisão os valores arrecadados pela organização criminosa.

Até o momento, os indícios sugerem que o esquema movimentou centenas de milhares de reais ao longo dos últimos anos.

O caso também reacende o debate sobre corrupção nas forças de segurança e o impacto desse tipo de crime na população mais vulnerável.

O Ministério Público e a Polícia Militar garantem que não haverá impunidade e que os responsáveis responderão pelos crimes de extorsão, associação criminosa e abuso de autoridade.

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