Brasil debate estratégias para evitar intoxicações por pomadas capilares no Carnaval

Evento reuniu especialistas para reforçar a importância da notificação de eventos adversos e regulamentações sanitárias.

Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

Na última terça-feira (25), um seminário promovido pela Rede Nacional de Vigilância Epidemiológica Hospitalar (RENAVEH) e pela Rede CIEVS reuniu mais de 200 participantes, entre profissionais de saúde e público geral, para discutir os desafios e estratégias de vigilância relacionadas às intoxicações causadas pelo uso de pomadas capilares no Brasil. O evento contou com a presença de representantes do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que destacaram medidas regulatórias e reforçaram a necessidade de notificação de eventos adversos, especialmente com a proximidade do Carnaval.

Importância da notificação

Daniel Marques Mota, especialista da Anvisa, explicou o funcionamento do sistema NotVisa, uma plataforma voltada para a notificação de eventos adversos por profissionais de saúde. Ele ressaltou a importância do registro detalhado de informações como número do lote, validade e nome do produto para que a Anvisa possa agir com rapidez e eficiência. Mota também orientou que, no caso específico de pomadas capilares, as notificações devem ser registradas sob o código de agente tóxico número 8, referente a cosméticos e produtos de higiene pessoal.

Números preocupantes

Dados apresentados no evento mostraram que, entre 2023 e 2024, foram registrados 3.110 casos de intoxicação exógena associada ao uso de pomadas modeladoras para trançar ou modelar cabelos. Apenas em fevereiro de 2025, foram notificados 167 novos casos, o que acende um alerta para a necessidade de intensificação das ações de vigilância sanitária com a chegada do Carnaval. Um dos problemas apontados foi a categorização incorreta de algumas notificações, o que pode comprometer a resposta das autoridades de saúde.

Lucas Sanglard, consultor técnico do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, destacou que a correta notificação é fundamental para que decisões sejam tomadas com base em evidências concretas. “Cada notificação bem preenchida contribui para ações regulatórias mais ágeis e efetivas”, afirmou.

Regulamentação e ações de fiscalização

A Anvisa vem adotando medidas rigorosas para controlar a comercialização das pomadas capilares. Recentemente, a agência atualizou a lista de produtos autorizados, mantendo a interdição cautelar de cosméticos que contenham concentrações elevadas da substância Ceteareth-20, associada a casos de irritação ocular grave. Além disso, empresas responsáveis por pomadas autorizadas devem assinar um Termo de Responsabilidade, garantindo que seus produtos não causaram efeitos adversos graves e que atendem aos padrões de segurança sanitária.

O evento também reforçou a importância do monitoramento contínuo de eventos adversos por meio da Cosmetovigilância e das ações de fiscalização sanitária, incluindo o cancelamento da autorização de produtos irregulares e a edição de normativas para reforçar o controle desses cosméticos no mercado.

Dicas para um Carnaval seguro

Com a proximidade das festividades, o Ministério da Saúde divulgou orientações para um uso seguro de pomadas capilares:

Escolha apenas produtos autorizados pela Anvisa.
Leia atentamente o rótulo e siga as instruções do fabricante.
Evite o uso excessivo e proteja os olhos e áreas irritadas da pele.
Ao remover o produto, incline a cabeça para trás para evitar contato com os olhos.
Em caso de contato acidental, lave os olhos com água corrente por pelo menos 15 minutos.

Os sintomas de intoxicação incluem coceira, vermelhidão, ardência e inchaço nos olhos, podendo evoluir para visão turva em casos graves. Diante de qualquer sintoma, a recomendação é buscar assistência médica e notificar as autoridades sanitárias pelos canais oficiais, como o e-Notivisa e o LimeSurvey.

Com ações coordenadas entre órgãos de vigilância e a sociedade, o evento destacou a necessidade de uma vigilância ativa para garantir a segurança da população contra riscos evitáveis.