
Doença se espalha por 17 das 21 províncias e afeta principalmente jovens com menos de 20 anos; falta de saneamento e acesso à água potável são principais desafios.
Por Paloma de Sá |GNEWSUSA
Angola enfrenta um dos maiores surtos de cólera dos últimos anos. Desde o início de 2025, a doença já se espalhou por 17 das 21 províncias do país, com quase 600 mortes registradas, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A taxa de letalidade está em 3,2%, bem acima do limite ideal de 1% estabelecido para contextos com acesso a tratamento precoce e adequado.
A cólera é uma infecção intestinal aguda causada pela ingestão de água ou alimentos contaminados, sendo altamente transmissível em regiões com deficiência de saneamento básico e abastecimento de água potável.
Jovens são os mais afetados
Embora a doença afete pessoas de todas as idades, a maioria dos casos tem sido registrada em pacientes com menos de 20 anos. A situação é crítica em bairros como o da Lixeira, no distrito de Sambizanga, em Luanda, onde há denúncias de ausência total de banheiros, acúmulo de lixo e escassez de água potável.
“A nossa população aqui não tem casas de banho. Fazem ainda os dejetos nas lixeiras. Não tem água potável. É uma situação muito carente mesmo”, relatou a médica Adelaide Manico, coordenadora do Centro de Tratamento de Cólera em Sambizanga.
Trabalho conjunto e vacinação
Diante do avanço da infecção, a OMS e o Ministério da Saúde de Angola, com apoio de diversas organizações parceiras, estão intensificando as ações emergenciais. Entre as medidas estão:
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Campanhas de vacinação contra a cólera;
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Mobilização de equipes comunitárias para educação e prevenção;
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Distribuição de kits de higiene e reforço no tratamento dos doentes;
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Monitoramento da água consumida pela população;
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Gestão emergencial do lixo, com apoio do Corpo de Bombeiros.
População mobilizada
Grupos locais como a Adecos vêm atuando incansavelmente para conter o surto. Voluntários trabalham na orientação das comunidades e no controle de focos de contaminação, especialmente em áreas densamente povoadas.
“Estamos cansados de ver mortes. Somos a Resposta Rápida. Não vamos parar enquanto isso não acabar”, declarou Flávio Njinga, voluntário da Adecos.
Desafios estruturais
O supervisor de Promoção da Saúde de Angola, António Catunda, destacou que o surto é reflexo direto da precariedade no acesso à água limpa.
“Grande parte da população não tem condições de comprar água. Se existisse uma rede pública eficiente, esse cenário seria outro”, lamentou.
Com o objetivo de zerar os casos e prevenir novos surtos, a OMS e as autoridades angolanas reforçam que a solução definitiva passa por investimentos estruturais em saneamento básico, acesso à água potável e educação em saúde pública.
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