
Deputado quer apurar falhas na fiscalização e possível envio clandestino de urânio enquanto governo nega irregularidades.
Por Gilvania Alves|GNEWSUSA
Uma nova ação no Congresso pode esquentar ainda mais o clima de desconfiança em torno da condução da política externa e do setor nuclear no Brasil. O deputado federal Adilson Barroso (PL-SP) protocolou, nesta segunda-feira (23), um requerimento para criar uma CPI com o objetivo de apurar se navios militares do Irã saíram do país carregando urânio, durante uma controversa passagem pelo porto do Rio de Janeiro em 2023.
A proposta precisa reunir 171 assinaturas de parlamentares. Apesar da dificuldade para ser votada — já que a Câmara só pode manter cinco CPIs em funcionamento ao mesmo tempo — o pedido reacende uma suspeita que ganhou força após bombardeios de Israel a instalações nucleares iranianas neste mês.
No centro das desconfianças está a visita de duas embarcações iranianas, que permaneceram no porto entre 26 de fevereiro e 4 de março de 2023. Mesmo com alertas públicos de países aliados, como os Estados Unidos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a entrada dos navios, ignorando sinais de que eles já estiveram envolvidos em operações ilícitas e sanções da ONU.
Sem provas concretas, mas ancorado em indícios considerados graves, Barroso justificou o pedido destacando falhas de fiscalização e permissividade do Estado: “A combinação da presença destes navios altamente militarizados, a precariedade de controle na autorização e o histórico de abastecimento e retirada de cargas estratégicas pelos mesmos agentes levantam a suspeita fundamentada de que poderiam estar envolvidos no transporte de material nuclear (como urânio) em rotas informais ou clandestinas”.
O sumiço de ampolas com amostras de urânio em uma fábrica de combustível nuclear em Resende (RJ) poucos meses depois só tornou o cenário mais nebuloso. Embora as autoridades afirmem que as amostras extraviadas não servem para fabricação de bombas, o fato é que o material sumiu de uma área que deveria ter vigilância absoluta.
Em nota para conter a pressão, o governo afirmou: “As amostras continham quantidades muito pequenas de urânio enriquecido (8 gramas por ampola), com teor de enriquecimento de 4,25%, o que está muito abaixo do necessário para qualquer aplicação armamentista — que exige enriquecimento superior a 90%”.
Apesar da justificativa oficial, não houve explicação convincente sobre o paradeiro das cápsulas nem detalhes do procedimento de rastreamento. Para parlamentares da oposição, o governo adota a tática do silêncio quando confrontado com perguntas incômodas.
A preocupação com o histórico de atividades ilícitas ligadas a embarcações do Irã não é nova. Na época da escala no Brasil, a embaixadora dos Estados Unidos, Elizabeth Bagley, alertou: “Esses navios, no passado, facilitaram o comércio ilícito e atividades terroristas e já tiveram sanções da ONU [Organização das Nações Unidas]. O Brasil é um país soberano, mas acreditamos fortemente que esses navios não deveriam atracar em qualquer lugar”.
Para o deputado Barroso, a omissão de órgãos como a Marinha agrava a desconfiança: “A hipótese de que materiais nucleares sensíveis, como urânio ou componentes relacionados, tenham sido exportados ou movimentados de maneira irregular precisa ser examinada à luz da legislação nacional e dos tratados internacionais assinados pelo Brasil, como o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP)”, enfatizou.
Analistas estrangeiros também veem incoerência entre a retórica de Lula e a prática diplomática. Alexandre Ostrowiecki, da Universidade de Jerusalém, não poupa críticas: “O governo que se diz defensor dos direitos humanos, mas permanece em silêncio diante de um Irã que bombardeia cidades israelenses, reprime brutalmente suas próprias cidadãs e executa homossexuais, enquanto estende tapete vermelho a representantes do Hamas e Hezbollah”.
Enquanto o Planalto insiste em minimizar o caso, a CPI pode obrigar autoridades a prestar contas sobre um episódio que, até agora, só reforça a percepção de negligência no monitoramento de material estratégico. Se confirmadas irregularidades, o escândalo pode custar caro para a imagem do Brasil em tratados de não proliferação nuclear e na relação com aliados históricos.
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