Butantan desenvolve testes rápidos e eficazes para diagnóstico precoce da leptospirose

Foto: Portal Butantan. Estudos foram realizados em conjunto com pesquisadoras do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan
Novos exames com tecnologia de ponta identificam a doença em até 25 minutos por meio de sangue ou urina e já têm patente reconhecida. Iniciativa promete ampliar o acesso ao diagnóstico e salvar vidas.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

O Instituto Butantan acaba de registrar um importante avanço no combate à leptospirose: dois novos testes rápidos, capazes de diagnosticar a doença em até 25 minutos, acabam de receber patentes oficiais do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). As inovações são fruto de anos de pesquisa conduzida por especialistas dos laboratórios de Bacteriologia e de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan, e prometem transformar a forma como a leptospirose é detectada no Brasil.

A leptospirose é uma infecção bacteriana transmitida principalmente pela urina de animais contaminados, como ratos e cães, sendo comum em períodos de enchentes e alagamentos. Em quadros graves, pode levar à morte em até 40% dos casos. Até hoje, o diagnóstico é considerado difícil e demorado, com exames convencionais levando até um mês para confirmação.

Os novos testes — um baseado na urina e outro no sangue — atuam em diferentes fases da infecção. O exame feito com urina, utilizando tecnologia de quimioluminescência, é eficaz na fase inicial da doença, quando os sintomas ainda são incipientes. Já o exame sanguíneo, que utiliza a técnica imunocromatográfica, semelhante aos testes rápidos da Covid-19, é indicado quando a infecção já está mais avançada.

Segundo a pesquisadora Patricia Aniz, responsável por coordenar o desenvolvimento dos testes, os métodos tradicionais são limitados por fatores como baixa sensibilidade, risco de contaminação em laboratório e necessidade de estruturas especializadas. “Com os novos testes, conseguimos detectar a doença com mais rapidez, precisão e segurança, mesmo em locais com menos infraestrutura”, explica.

Atualmente, o método mais utilizado no país é o MAT (Teste de Aglutinação Microscópica), que exige a manipulação de culturas vivas da bactéria Leptospira e pode demorar semanas para confirmar a infecção. Já o teste ELISA-IgM, apesar de ser utilizado em larga escala, possui menor precisão e sofre interferência de outras doenças, dificultando diagnósticos assertivos.

Tecnologia acessível e de baixo custo
Os testes desenvolvidos pelo Butantan utilizam materiais simples e estão prontos para serem distribuídos de forma ampla. O teste imunocromatográfico, por exemplo, funciona com uma pequena amostra de sangue aplicada em uma fita de nitrocelulose, e o resultado aparece em até 20 minutos, com uma linha colorida indicando positivo ou negativo.

O teste urinário, por sua vez, mede a emissão de luz após reação química entre a bactéria e um anticorpo específico, sem reatividade cruzada com outras bactérias. Ambos os testes têm custo acessível e alta reprodutibilidade, características fundamentais para a aplicação em massa no SUS e em campanhas de saúde pública.

Impacto na saúde pública e na agropecuária
Além de ser uma ameaça à saúde humana, a leptospirose também impacta a produção agropecuária, causando perdas reprodutivas em rebanhos, como abortos e infertilidade em bovinos, suínos e equinos. Ao tornar o diagnóstico mais rápido, os novos testes também beneficiarão produtores rurais, contribuindo para a segurança alimentar e a economia nacional.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 500 mil casos de leptospirose ocorrem por ano no mundo. No Brasil, os surtos são recorrentes em épocas de chuva, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. O Ministério da Saúde registrou cerca de 3 mil casos anuais nos últimos anos, com tendência de aumento.

Reconhecimento científico
As pesquisas que originaram os novos testes foram desenvolvidas ao longo de uma década. A estudante Tatiana Barrinuevo Gotti, orientada por Patricia Aniz, liderou a criação do teste imunocromatográfico, enquanto a doutoranda Larissa Barros Mato contribuiu com o método por quimioluminescência. Ambas as tecnologias foram premiadas em congressos científicos e agora estão oficialmente patenteadas.

“A inovação permite ampliar o acesso ao diagnóstico, salvar vidas e prevenir complicações graves. Nosso objetivo é que esses testes estejam disponíveis nos postos de saúde, prontos para serem utilizados em qualquer situação de emergência”, conclui Patricia.

O Butantan segue investindo em pesquisas para fortalecer o diagnóstico, a prevenção e o tratamento da leptospirose, reafirmando seu papel estratégico na saúde pública nacional.

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