
Uma investigação federal revelou que dezenas de pacientes nos EUA apresentavam sinais de consciência momentos antes de terem seus órgãos retirados.
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA
Uma investigação conduzida pelo governo dos Estados Unidos revelou um cenário alarmante: dezenas de pacientes considerados doadores de órgãos apresentaram sinais de consciência momentos antes dos procedimentos de retirada, contrariando protocolos médicos e éticos estabelecidos.
O relatório, elaborado pela Administração de Recursos e Serviços de Saúde (HRSA), identificou falhas graves na atuação da Kentucky Organ Donor Affiliates — atualmente chamada de Network for Hope, organização responsável pela coordenação de doações no estado. Em 73 dos 350 casos analisados, sinais de consciência dos pacientes foram ignorados, e os procedimentos seguiram mesmo diante de indícios de que os doadores ainda estavam vivos de forma consciente.
O caso que deu início à investigação
A apuração teve início após o caso de Anthony Thomas Hoover II, de 32 anos, que sofreu uma overdose em 2021. Após dois dias em coma, a família autorizou a doação de órgãos, acreditando em um diagnóstico de condição irreversível. No entanto, durante os preparativos para o procedimento, Hoover começou a reagir: chorou, movimentou as pernas e balançou a cabeça, além de se debater durante um exame.
Apesar das reações, ele foi sedado para evitar mais movimentos. Registros mostram que a equipe médica demonstrava desconforto. Um dos médicos, inclusive, recusou-se a desligar os aparelhos, alegando que o procedimento “se assemelhava à eutanásia”. Por conta dessa decisão, Hoover sobreviveu e hoje, aos 36 anos, vive com sequelas neurológicas.
Outros casos igualmente preocupantes
A investigação também apontou 103 outros episódios com condutas questionáveis. Em um dos relatos mais chocantes, um paciente de 50 anos começou a despertar menos de uma hora após ter o suporte vital retirado. Ele chegou a abrir os olhos e observar o ambiente, mas o procedimento não foi interrompido de imediato. Somente 40 minutos depois, quando os órgãos já não eram mais viáveis, foi levado à UTI. Morreu três dias depois, após se comunicar com a família.
Entenda a prática
Os casos envolvem a chamada doação após morte circulatória, diferente da morte cerebral. Nessa modalidade, os pacientes ainda possuem alguma atividade neurológica, mas estão em coma profundo e dependem de aparelhos para viver. Pela norma, os profissionais devem esperar cinco minutos após a parada cardíaca espontânea antes de iniciar a retirada dos órgãos — sem interferir no processo de morte.
A apuração federal, no entanto, apontou que houve pressão indevida sobre famílias, desconsideração de sinais clínicos, e falta de protocolos adequados para distinguir o coma profundo de estados neurológicos reversíveis. Também foi constatado que o uso de sedativos e drogas ilegais pode ter mascarado a verdadeira condição dos pacientes.
Medidas e consequências
Como resposta, o governo federal exigiu mudanças imediatas nas práticas da Network for Hope. Entre as determinações estão:
- Reavaliações neurológicas a cada 12 horas para potenciais doadores;
- Reforço no treinamento das equipes envolvidas;
- Melhor comunicação com hospitais e familiares;
- Garantia de que os protocolos de morte circulatória sejam rigorosamente cumpridos.
Em nota, a organização afirmou que aceita todas as recomendações e irá implementá-las integralmente.
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