Reconhecida como deficiência única pela ONU, a surdocegueira impacta profundamente a comunicação, a mobilidade e o acesso à informação, afetando desde crianças até idosos — e exige ações específicas em saúde, educação e inclusão social.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
A surdocegueira, também chamada de deficiência sensorial dupla, atingem pessoas que têm perda significativa — parcial ou total — simultânea da audição e da visão. Essa combinação de deficiências vai além da soma dos prejuízos isolados: afeta profundamente a comunicação, a locomoção, a socialização e a participação na comunidade.
Quantos são afetados?
Estima-se que cerca de 0,2% da população mundial sofre de surdocegueira grave — algo em torno de 1 em cada 500 pessoas — e até 2% podem ter formas mais leves da condição. Entre crianças de 2 a 17 anos, 0,05% apresentam surdocegueira severa (1 a cada 2.000), e 0,7% formas leves (cerca de 1 em 140).
Tipos e causas
A surdocegueira pode ser congênita — por síndromes genéticas como Usher, rubéola congênita ou síndrome de CHARGE — ou adquirida, devido a meningite, AVC, diabetes, traumas, uso prolongado de medicamentos ou síndrome de Usher tardia.
A síndrome de Usher é a principal causa genética, combinando surdez com degeneração progressiva da retina (retinose pigmentar), e atinge de 1 em 12.500 a 28.000 indivíduos em diferentes regiões.
Desafios de comunicação e inclusão
Pessoas com surdocegueira frequentemente enfrentam isolamento social, dificuldades de mobilidade e acesso reduzido à informação, já que os sentidos restantes não conseguem “compensar” totalmente a dupla perda sensorial.
Para se comunicar, podem usar métodos como:
-
Libras tátil (sinalização na palma da mão);
-
Alfabeto dactilológico na mão;
-
Braille, tablita tátil e recursos eletrônicos;
-
Tecnologias assistivas, como luvas táteis e displays Braille interativos.
Reconhecimento internacional e direitos
A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CRPD) reconhece a surdocegueira como condição singular, exigindo políticas específicas, educação inclusiva e intérpretes treinados.
Todos os países signatários devem garantir acesso à informação, apoio comunicacional e intermediação social, como intérpretes guias, para promover a autonomia desses indivíduos.
Impactos e caminhos para inclusão
Um estudo global da PLOS One revelou que pessoas surdocegas relatam baixa participação social, insegurança, solidão e risco elevado de problemas de saúde mental.
A idade é um fator de risco: casos de surdocegueira aumentam com o envelhecimento — atingindo até 6% da população com mais de 75 anos.
Esses dados motivam um chamado global para:
-
Reforçar serviços específicos, como intérpretes táteis e programas educativos;
-
Investir em tecnologia assistiva e acessibilidade digital;
-
Promover formação especializada de profissionais de saúde, educadores e cuidadores.
A surdocegueira é uma deficiência complexa que demanda respostas integradas e humanizadas, desde o diagnóstico até medidas de apoio cotidiano. Reconhecê-la como uma condição única e não somente como soma de surdez e cegueira é essencial para garantir inclusão social, acessibilidade e qualidade de vida. A adoção de políticas públicas, tecnologias assistivas e práticas sensíveis pode transformar realidades e assegurar que essas pessoas tenham espaço pleno na sociedade — em todas as fases da vida.
- Leia mais:

Faça um comentário