
Novo relatório mostra que a desconexão social tem impacto grave na saúde mental e física, aumentando riscos de AVC, declínio cognitivo e mortalidade precoce.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Um novo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) acende um sinal de alerta global: a solidão e o isolamento social estão diretamente relacionados a cerca de 100 mortes por hora em todo o mundo. A estimativa representa mais de 871 mil mortes anuais e evidencia que a desconexão humana se tornou uma séria ameaça à saúde pública.
Publicado nesta terça-feira (1º de julho), em Genebra, o Relatório da Comissão da OMS sobre Conexão Social revela que uma em cada seis pessoas no planeta sofre com solidão – condição que vai além do desconforto emocional, afetando de forma concreta a saúde física e mental de milhões.
De acordo com o documento, a falta de relações sociais está associada a um aumento no risco de doenças cardiovasculares, derrames (AVC), declínio cognitivo e depressão. Em contrapartida, indivíduos que mantêm laços sociais fortes demonstram maiores chances de desfrutar de uma saúde melhor e de uma expectativa de vida mais longa.
Jovens e populações vulneráveis são os mais afetados
Embora o problema atinja todas as faixas etárias, os dados indicam uma incidência especialmente elevada entre adolescentes e moradores de países de baixa e média renda. Entre 17% e 21% dos jovens entre 13 e 29 anos relataram sentir-se solitários com frequência. Em países de baixa renda, cerca de 24% da população declarou viver em solidão – o dobro da taxa observada em países ricos (11%).
O isolamento social, embora menos documentado estatisticamente, pode afetar até um terço da população, e um em cada quatro adolescentes, segundo os dados disponíveis. Fatores como viver sozinho, baixa escolaridade, renda insuficiente, problemas de saúde e o uso excessivo de tecnologias digitais estão entre os principais gatilhos identificados.
Tecnologia: aliada ou vilã?
O relatório também levanta um ponto sensível: o uso descontrolado de telas e redes sociais, especialmente entre os jovens, pode agravar os quadros de solidão e ansiedade. A OMS faz um alerta quanto ao tempo excessivo de exposição às mídias digitais e à qualidade das interações online, que muitas vezes substituem o convívio presencial por conexões superficiais e até nocivas.
A diretora-geral assistente da OMS para Saúde Mental, Dra. Dévora Kestel, destaca que a solidão deve ser tratada como um problema de saúde pública. “Não se trata apenas de uma questão emocional ou subjetiva. O isolamento mata, e precisamos de políticas globais que incentivem a construção de comunidades mais conectadas”, afirmou.
Conexão social como fator protetor
A boa notícia é que o fortalecimento dos laços sociais é capaz de reverter esse cenário. O relatório aponta que a conexão interpessoal atua como um fator protetivo contra doenças crônicas e transtornos mentais, contribuindo também para a redução da inflamação no organismo – um indicador importante de saúde a longo prazo.
Iniciativas de promoção da saúde mental, estímulo à convivência comunitária e ampliação de redes de apoio são estratégias recomendadas pela OMS para enfrentar a epidemia silenciosa da solidão.
Diante do crescente impacto da solidão na saúde mundial, a OMS reforça a urgência de políticas públicas integradas que favoreçam a inclusão social, especialmente entre os mais vulneráveis. A valorização das relações humanas, tanto em ambientes físicos quanto digitais, deve ser reconhecida como elemento fundamental para o bem-estar e a longevidade da população global.
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