Família questiona condenação milionária e teme pela vida de idosa frágil levada de volta à prisão.
Por Gilvania Alves|GNEWSUSA
Uma nova decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levou Vildete Ferreira da Silva Guardia, de 74 anos, de volta à Penitenciária Feminina de Santana, em São Paulo. Condenada a 11 anos de prisão em regime fechado por suposta participação nos atos de 8 de janeiro de 2023, ela também foi sentenciada a pagar R$ 30 milhões em indenização por danos — valor que, segundo a família, não corresponde à responsabilidade real da idosa, que enfrenta doenças graves e tratamento psiquiátrico.
Em entrevistas exclusivas concedidas ao repórter investigativo Thathyanno Desa, do GNEWSUSA, três filhos de Vildete detalharam o estado de saúde da mãe e denunciaram falhas no processo, além do sentimento de impotência que vivem há mais de dois anos.
A filha Paula Guardia afirma que a mãe sofre com múltiplas doenças crônicas, inclusive sob medicação psiquiátrica:
“Ela apresenta várias comorbidades, está em tratamento, inclusive no momento tomando remédio psiquiátrico.”
Segundo Paula, mesmo com consultas agendadas para hoje, Vildete foi reconduzida ao regime fechado.
“Ela vem sofrendo com episódio de trombose, passou por uma retirada de um tumor recente, apresenta problemas crônicos do intestino, tem várias alergias a medicamentos, a alimentos, e ela está sofrendo bastante e todos nós com essa situação.”
Para Paula, o sentimento que resume o drama familiar é de total impotência:
“O sentimento se resume em impotência, a gente não sabe dimensionar o tamanho do inimigo contra o que estamos tentando se defender.”
“Parece que não existe nada que a gente possa fazer, não tem como se defender, essa é a sensação, porque a quem você vai recorrer? É justamente a pessoa que está te acusando, então vai recorrer a quem mais? Não tem primeira e segunda instância, ela foi julgada pelo STF que é o superior tribunal, não tem mais pra onde recorrer.”
Ela lembra que o caso da mãe não é isolado:
“É um momento muito delicado que estamos passando aqui, não é só com ela, são várias pessoas que continuam presas, tem pessoas que desde o dia do acontecido estão presas e não saíram nem um momento.”
“Tem 2 anos e meio já que estamos sofrendo com isso.”
Outro filho, Flávio Marcelo Guardia, afirma que a mãe foi usada como exemplo para punir em bloco quem participou dos protestos:
“Ela foi acusada de golpe de Estado, junto com o pessoal que estava nos protestos de janeiro, mas na verdade, na época ela tinha já 71 para 72 anos, era uma senhora idosa, que realmente estava presente lá, mas não participou, evidentemente, de nenhuma quebradeira, nem de ato de vandalismo, estava lá fazendo protesto. Mas, como foi pego um grande grupo como bode expiatório, ela foi no meio.”
Flávio contesta também a condenação milionária:
“Você não pode condenar uma pessoa a ressarcir um dano que não foi ela que causou. O ressarcimento teria que ser individualizado. Quem praticou o dano é que deveria ser responsabilizado.”
A família afirma que a prisão domiciliar foi concedida apenas após grande pressão da imprensa, mas caiu por supostas violações do perímetro monitorado por tornozeleira eletrônica.
“Ela fez esse deslocamento por algumas vezes, sempre comunicado. Alguns desses comunicados não chegaram a ser informados no processo e acabou que ficou constando como se ela tivesse 20 infrações de delimitação de perímetro”, explicou Flávio.
Já Caio Fernando Guardia, outro filho, destaca falhas técnicas no equipamento:
“Provavelmente descarregava no período da noite e isso acusou como se ela estivesse violando a tornozeleira. Ela nunca saiu de casa, tem várias testemunhas, vizinhos, ela sempre cumpriu rigorosamente as medidas cautelar estabelecidas, exceto quando tinha que ir ao médico com autorização prévia.”
Para ele, a mãe corre risco de não resistir ao regime fechado:
“Ela estava em liberdade com medidas restritivas devido a problemas de saúde (…). E dentro desses nove meses [na prisão] a situação dela foi só se agravando, tendo diversos sangramentos por uma retocolite e muitas outras patologias que ela tem, devido à idade avançada.”
Relatórios do Centro de Controle e Operações Penitenciárias de São Paulo (CECOP/SP) apontaram falhas no GPS, baixa bateria e supostas violações de área restrita. Já a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu novos laudos para confirmar se o quadro clínico é realmente incompatível com a prisão.
Para Caio, a punição é desproporcional:
“O sentimento é de injustiça e impunidade! Tenho em vista que você vê aqui no Brasil que um estuprador, um assassino passa por audiência de custódia e sai no outro dia para cometer novos crimes e uma pessoa com 73 anos que nunca cometeu nenhum ilícito está sendo punida exemplarmente por um suposto erro.”
A família e a defesa sustentam que princípios constitucionais, como a dignidade da pessoa humana e o Estatuto do Idoso, deveriam garantir a liberdade da idosa até o fim do processo. Para os filhos, resta pouco a fazer — além de denunciar publicamente o que consideram uma punição cruel e exemplar.
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