Brasil registra aumento de 114% no tempo de espera por transplante de córnea

Mais da metade das pessoas na fila são mulheres (55,7%) e quase 50% têm 65 anos ou mais, um retrato do envelhecimento da população e do avanço das doenças degenerativas da córnea
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA

 

O tempo de espera para um transplante de córnea no Brasil mais que dobrou em dez anos e já ultrapassa um ano, segundo levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) com base em dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Enquanto em 2015 um paciente aguardava em média 174 dias, em 2024 o prazo chegou a 374 dias. Nos seis primeiros meses de 2025, a média já foi de 369 dias. Atualmente, mais de 31 mil pessoas estão na fila pelo procedimento.

Entre 2015 e julho de 2025, foram realizados 150.376 transplantes de córnea no país. São Paulo concentrou o maior volume (52.913 cirurgias), seguido por Ceará (10.706), Minas Gerais (10.397), Paraná (9.726), Rio Grande do Sul (6.895) e Goiás (6.533). Acre (212), Tocantins (451) e Alagoas (866) tiveram os menores números.

O tempo de espera varia drasticamente entre os estados. Em 2024, pacientes do Rio de Janeiro chegaram a esperar 1.424 dias, enquanto no Acre, Alagoas e Rio Grande do Norte a fila ultrapassou mil dias. Já no Ceará, o tempo médio foi de apenas 58 dias, seguido por Santa Catarina (164), Mato Grosso (227), Amazonas (243), São Paulo (247) e Paraná (256).

O perfil dos pacientes também aponta tendências demográficas. A maioria é formada por mulheres (55,7%) e quase metade tem 65 anos ou mais, reflexo do envelhecimento populacional e da alta de doenças degenerativas da córnea. Jovens representam 17% da fila, principalmente por causa do ceratocone, e há 458 crianças e adolescentes aguardando a cirurgia.

Especialistas apontam múltiplos fatores para o crescimento da fila. Entre eles, o impacto da pandemia de Covid-19, que suspendeu transplantes eletivos por seis meses em 2020, e a baixa taxa de doação. Segundo Aline Moriyama, diretora médica do Banco de Olhos de Sorocaba, muitas famílias recusam a doação por falta de informação ou diálogo prévio. “A doação de córneas pode ser feita até 12 horas após a morte cardiorespiratória, e o falecido mantém a aparência normal”, explica.

Outro entrave é o subfinanciamento do setor. Os repasses do SUS para bancos de olhos não são reajustados há mais de uma década, enquanto os custos de insumos e exames cresceram com novas tecnologias e exigências legais. Em maio, o SNT publicou decreto elevando o valor de dois itens essenciais: líquido de preservação da córnea e sorologia. A medida foi considerada positiva, mas insuficiente para equilibrar os custos e reduzir a fila.

“O aumento do custo de manutenção dos bancos de olhos não foi acompanhado por um reajuste proporcional nos repasses do SUS”, afirma Moriyama. Para ela, além da atualização nos valores, é urgente ampliar campanhas de conscientização e políticas que estimulem a identificação de potenciais doadores.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que auxilia iniciativas voltadas à promoção da saúde.

 

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