Microplásticos no corpo humano: o que a ciência já sabe sobre os riscos à saúde

Foto: Internet
Estudos recentes confirmam a presença de plásticos em órgãos vitais e associam a exposição a inflamações, distúrbios hormonais e doenças cardiovasculares. Especialistas alertam para a urgência de ações regulatórias e educativas.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

Se antes o plástico era visto apenas como um problema ambiental — acumulando-se em oceanos, solos e paisagens urbanas —, hoje ele também é uma ameaça invisível, silenciosa e presente dentro do corpo humano. Pesquisas científicas recentes revelam que partículas microscópicas de plástico, os chamados micro e nanoplásticos, já foram encontradas em órgãos como cérebro, rins, fígado, pulmões, sangue, testículos, artérias e até em placentas e cordões umbilicais.

Essas descobertas acendem um alerta para os possíveis efeitos à saúde, ainda pouco compreendidos pela população e muitas vezes subestimados por governos e indústrias.

De onde vêm os microplásticos?

Os microplásticos são fragmentos com menos de 5 milímetros, gerados a partir da degradação de produtos plásticos descartáveis, cosméticos, pneus, roupas sintéticas, embalagens de alimentos, entre outros. Já os nanoplásticos são ainda menores — invisíveis ao microscópio óptico — e podem ser absorvidos por vias como:

  • Respiração, por partículas suspensas no ar;

  • Ingestão, através de alimentos e bebidas contaminados;

  • Contato com a pele, principalmente por cosméticos e cremes com microesferas plásticas.

Segundo a médica patologista Thais Mauad, da USP, “é praticamente impossível viver em uma cidade como São Paulo e não ingerir plástico diariamente, mesmo que de forma involuntária”.

Onde eles foram encontrados?

Estudos recentes, como o publicado em 2024 na revista Nature Medicine, detectaram microplásticos em 100% das amostras de tecidos cerebrais analisados. Outro trabalho, na New England Journal of Medicine, encontrou partículas em placas ateroscleróticas de artérias carótidas, associando sua presença a maior risco de infarto, AVC ou morte em menos de três anos.

No estudo da Universidade do Novo México, publicado no Toxicological Sciences, microplásticos foram detectados em todos os testículos humanos analisados, com concentração média de 328 microgramas por grama de tecido — um nível mais alto do que o encontrado em outros órgãos.

Quais os riscos à saúde?

Ainda não há consenso definitivo sobre todos os impactos dos microplásticos na saúde humana, mas estudos já apontam efeitos tóxicos e inflamatórios importantes. As partículas plásticas não apenas atuam como corpos estranhos dentro do organismo, podendo causar inflamações crônicas e alterações celulares, como também carregam substâncias químicas potencialmente perigosas, como:

  • Ftalatos e bisfenóis, que afetam o sistema endócrino;

  • Pigmentos e metais pesados, ligados a distúrbios neurológicos e imunológicos;

  • Retardadores de chama e plastificantes, que podem interferir no metabolismo.

Pesquisas com animais e em laboratório sugerem ainda alterações hormonais, resistência à insulina, efeitos no sistema nervoso, imunológico e reprodutivo. Um dos primeiros indícios em humanos veio com a descoberta de microplásticos no fluido folicular de mulheres, com possível impacto na fertilidade.

Por que ainda não reagimos como deveríamos?

A naturalização do uso do plástico — presente em embalagens, roupas, cosméticos, eletrodomésticos e até em medicamentos — dificulta que a sociedade o perceba como uma ameaça real.

Além disso, a invisibilidade dessas partículas e a falta de divulgação científica acessível contribuem para uma reação ainda tímida.  A ciência já tem dados preocupantes, mas falta transformar esse conhecimento em ação coletiva, políticas públicas e mudança cultural.

O que está sendo feito — e o que ainda falta?

Em nível global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os microplásticos como contaminantes emergentes e defende o monitoramento contínuo. Porém, muitos países ainda não aderiram a ações concretas. O Brasil, por exemplo, optou por não assinar o Tratado Global do Plástico, em negociação na ONU desde 2022.

Internamente, o país avançou com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, reforçada pelo Decreto nº 11.413/2023, que criou os certificados CCRLR e CERE, incentivando empresas a investirem em reciclagem e logística reversa. Apesar disso, especialistas alertam que o peso da responsabilidade ainda recai sobre o consumidor final, enquanto grandes fabricantes seguem produzindo embalagens e produtos descartáveis sem controle eficaz.

Há como reverter esse quadro?

Alguns caminhos apontados pela ciência incluem:

  • Aférese terapêutica, técnica promissora para remover microplásticos do sangue, já testada em pacientes com doenças autoimunes (estudo publicado no Brain Medicine, 2025);

  • Substituição de plásticos descartáveis por materiais biodegradáveis ou reutilizáveis;

  • Educação ambiental desde a infância, para despertar consciência crítica e mobilização coletiva;

  • Pressão sobre a indústria, por meio de políticas de responsabilidade estendida do produtor.

Precisamos de uma revisão urgente no modelo de produção e consumo de plástico. O problema é global, mas a solução começa nas escolhas locais — tanto políticas quanto pessoais.

  • Leia mais:

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