Brasil: estudo identifica áreas de maior risco para picadas de serpentes e alerta para saúde pública

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Pesquisa com participação do Instituto Butantan analisou quase 20 mil casos e aponta que urbanização desordenada aumenta a exposição humana aos acidentes ofídicos
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

Um estudo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia, com participação do Instituto Butantan, trouxe uma análise detalhada sobre os acidentes envolvendo serpentes peçonhentas no estado de São Paulo e destacou o impacto do problema na saúde pública. A pesquisa avaliou 17.740 casos registrados entre 2010 e 2022 e revelou as regiões de maior risco, o perfil das vítimas e fatores que contribuem para o aumento das ocorrências.

Segundo o levantamento, os acidentes com jararacas foram os mais frequentes, especialmente nas regiões sul, sudeste, norte e litoral paulista. Já as cascavéis tiveram maior incidência nas regiões central, nordeste e noroeste do estado. Embora mais raros, representando pouco mais de 1% dos registros, os incidentes com corais-verdadeiras também preocupam, pois essas serpentes foram identificadas em todo o território paulista.

“A iniciativa apoia o planejamento de ações preventivas e a distribuição mais estratégica de antivenenos, salvando vidas”, destacou Fan Hui Wen, diretora técnica de produção de soros do Butantan e coautora do estudo.

Perfil das vítimas e alerta urbano

O estudo constatou que homens entre 20 e 59 anos são os mais afetados, refletindo o padrão nacional. No entanto, uma particularidade em São Paulo chamou a atenção: 55% dos acidentes ocorreram em áreas urbanas ou periurbanas, evidenciando que a ameaça não está restrita ao campo.

Essa tendência, chamada de “urbanização dos acidentes ofídicos”, está relacionada à expansão desordenada das cidades, que aproxima humanos de habitats naturais das serpentes e atrai roedores, suas presas.

No último ano, São Paulo registrou 2.133 casos, ficando em quarto lugar no ranking nacional de acidentes com serpentes, segundo o Painel Epidemiológico do Ministério da Saúde.

Regiões e espécies mais comuns

As jararacas (Bothrops) foram responsáveis por 61% dos acidentes, predominando em regiões próximas a florestas tropicais, como Iporanga, Sete Barras, Miracatu, Juquiá e Barra do Turvo.

As cascavéis (Crotalus), mais comuns em regiões secas e abertas, representaram 12% dos casos, com maior risco em cidades como Rifaina, São Francisco, São João das Duas Pontes, Cássia dos Coqueiros e Santa Mercedes.

Os acidentes com corais-verdadeiras (Micrurus), apesar de menos frequentes (1,2% dos registros), exigem atenção especial em municípios como Juquitiba, São Lourenço da Serra, São Francisco, São Pedro e Tabapuã, especialmente porque muitas ocorrências envolvem crianças atraídas pela coloração vibrante do animal.

Sazonalidade e fatores climáticos

A maior incidência foi registrada no verão, período de temperaturas elevadas e chuvas intensas, quando as serpentes se movimentam mais em busca de presas e recursos.

Já no inverno, entre junho e agosto, houve redução de acidentes com jararacas e corais-verdadeiras, mas os episódios com cascavéis permaneceram relativamente estáveis ao longo do ano.

Impacto na saúde pública

Além de mapear áreas críticas, o estudo revelou que muitos acidentes ocorrem fora do município de residência da vítima, destacando a importância de garantir estoques de antivenenos em hospitais de regiões turísticas ou agrícolas.

Cerca de 13% dos casos com jararacas, 15% com cascavéis e 13% com corais-verdadeiras ocorreram em deslocamentos para outras cidades, o que reforça a necessidade de planejamento logístico para atendimento rápido.

A rapidez no acesso ao soro específico é fundamental para evitar sequelas graves e reduzir a mortalidade. Em média, as vítimas estavam a 50 km de distância de casa, mas alguns casos ocorreram a até 800 km do município de origem.

Respostas e metas globais

O Instituto Butantan, referência na produção de antivenenos no Brasil, entregou em 2024 mais de 420 mil frascos de soros hiperimunes ao Ministério da Saúde, fundamentais para o tratamento dos envenenamentos.

A iniciativa está alinhada à meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que pretende reduzir em 50% as mortes e incapacidades causadas por picadas de serpentes até 2030.

“Garantir acesso rápido ao antiveneno e manter equipes treinadas é crucial para salvar vidas”, reforçou Fan Hui Wen.

Prevenção e orientação à população

Especialistas destacam que a prevenção é a forma mais eficaz de reduzir acidentes. Entre as medidas recomendadas estão:

  • Evitar caminhar descalço em áreas de mata, plantações ou terrenos baldios;

  • Manter terrenos limpos e livres de entulhos que atraem roedores;

  • Não manusear serpentes, mesmo as aparentemente dóceis;

  • Procurar atendimento médico imediato após a picada, sem tentar métodos caseiros.

Para emergências, o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado de São Paulo (CIEVS) disponibiliza um mapa online com os hospitais de referência que possuem soro antiveneno.

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