
Em apenas seis meses, exportações brasileiras alcançaram US$6,7 milhões — três vezes mais que em 2024 — enquanto Lula defende “soberania” sobre minerais estratégicos, sob críticas de falta de transparência e política industrial
Por Redação| GNEWSUSA
Dados recentes mostram que, no primeiro semestre de 2025, as exportações brasileiras de terras raras à China alcançaram US$6,7 milhões — cerca de três vezes o valor registrado no mesmo período de 2024 — um crescimento rápido, embora ainda modesto em termos absolutos. O salto ocorre num momento em que as terras raras ganham importância estratégica para tecnologia, defesa e energia limpa; paralelamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem enfatizado a necessidade de “defender a soberania” sobre recursos críticos, discurso que analistas dizem conflitar com a falta de uma política industrial clara e de controles sobre vendas e parcerias internacionais.
O que mostram os números
Relatórios publicados em 2025 por entidades que acompanham o comércio Brasil-China apontam que o valor das exportações brasileiras de compostos de terras raras à China chegou a US$6,7 milhões no primeiro semestre de 2025, o que representa um aumento de cerca de três vezes em relação ao mesmo período de 2024. Embora o montante seja pequeno quando comparado ao total do comércio bilateral, a velocidade de crescimento acende um alerta: trata-se de minerais estratégicos cujo controle há muito virou assunto de segurança econômica global.
Por que isso preocupa especialistas
A China domina a cadeia de valor do refino e processamento de terras raras e tem usado essa posição como ferramenta geopolítica em disputas comerciais com EUA e Europa; nesse contexto, a expansão de fornecimento de países como o Brasil pode tanto ser oportunidade quanto risco. Para alguns analistas, a entrada de volumes maiores no mercado chinês sem garantias de processamento, controle tecnológico e regras de origem pode diminuir o potencial de captura de valor pela indústria nacional e aumentar a dependência externa em etapas estratégicas da cadeia.
O discurso do governo vs. os atos
Em eventos públicos recentes o presidente Lula e representantes do Executivo afirmaram que o Brasil precisa proteger e exercer soberania sobre minerais críticos e planejam políticas para ampliar o controle estatal e o valor agregado local. Em nota oficial e em discurso, o Planalto reiterou que “a soberania é intocável” e que o governo prepara medidas para proteger minerais estratégicos. No entanto, críticos — incluindo economistas e especialistas em mineração — apontam que a aceleração das exportações sem transparência sobre contratos, destinos finais e cláusulas de conteúdo local pode indicar falta de mecanismo eficaz para transformar recursos em desenvolvimento industrial doméstico.
Impactos socioambientais e lições do passado
A abertura de minas e o rush por minerais críticos já têm histórico no Brasil — com impactos sociais e ambientais que nem sempre foram adequadamente mitigados. Investimentos anunciados e afrouxamento de regulações podem acelerar a produção, mas levantam questões sobre licenciamento, contaminação de água, direitos de comunidades locais e distribuição de royalties. Regiões como Minaçu e outras áreas de Mata Atlântica e Cerrado enfrentam dilemas entre promessa de desenvolvimento e riscos ambientais.
Contexto geopolítico: China, EUA e o “jogo” dos minerais estratégicos
A demanda de Pequim por fontes alternativas de terras raras aumentou após tensões comerciais com os EUA e a imposição de controles de exportação em 2025; governos e empresas chinesas têm buscado diversificar fornecedores fora da Ásia, enquanto países consumidores tentam construir cadeias alternativas. Nesse xadrez, exportadores recentes como o Brasil podem se tornar peças disputadas — mas o país precisa de uma política pública para garantir que a exploração resulte em desenvolvimento tecnológico, empregos qualificados e soberania real, e não apenas em exportação de matéria-prima.
O que falta: transparência, industrialização e regras claras
Analistas recomendam medidas concretas: inventário público das reservas e contratos, regras obrigatórias de conteúdo local e processamento, cláusulas contra transferência indiscriminada de tecnologia, reforço de órgãos de fiscalização ambiental e social, e estratégias de atração de investimento que priorizem cadeias de valor domésticas. Sem isso, o discurso sobre “defender a soberania” corre o risco de permanecer retórico enquanto o país perde oportunidades de industrialização.
O triplo das exportações brasileiras de terras raras à China no primeiro semestre de 2025 — embora ainda pequeno em cifra absoluta — é um sinal claro de que o Brasil entrou com mais força num mercado que tem alto impacto geopolítico. A contradição entre o aumento das vendas e a retórica governamental sobre proteger recursos estratégicos acendeu o debate: trata-se de uma chance histórica para industrializar e agregar valor no país, ou de mais um fluxo de matéria-prima sendo vendido sem retorno suficiente para a sociedade brasileira? A resposta dependerá de decisões concretas do governo, do Congresso e da sociedade civil.
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