Alemanha lidera iniciativa da UE para deportar afegãos e negocia diretamente com o Talibã

Em busca de cooperação para repatriações, governo alemão abre diálogo inédito com regime afegão e estuda ampliar número de voos de deportação
Por Chico Gomes | GNEWSUSA

À medida que a Alemanha e outros países da União Europeia intensificam a repressão à imigração, líderes europeus avaliam planos para deportar migrantes afegãos em larga escala. Para viabilizar o processo, Berlim tem buscado cooperação direta com o Talibã, oferecendo em troca o que o regime mais deseja no cenário internacional: legitimidade política.

A Alemanha tem assumido a dianteira dentro da UE para estabelecer laços com o governo afegão, atualmente reconhecido formalmente apenas pela Rússia. Autoridades alemãs acreditam que outros países europeus devem seguir o mesmo caminho.

A iniciativa surge em meio à pressão política interna. O governo do chanceler Friedrich Merz, pressionado pelo avanço do partido de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), prometeu aumentar as deportações, incluindo as de afegãos — que representam o segundo maior grupo de solicitantes de asilo no país, atrás apenas dos sírios.

Sem relações diplomáticas oficiais com o Talibã, Berlim adotou uma medida sem precedentes. “Em breve teremos um acordo que nos permitirá repatriar pessoas regularmente para o Afeganistão em voos regulares”, declarou o ministro do Interior, Alexander Dobrindt, acrescentando que autoridades já mantêm “conversas técnicas com Cabul”.

Inicialmente, a Alemanha pretende deportar afegãos condenados por crimes, mas o governo não descartou ampliar as repatriações para aqueles sem status de proteção. Neste verão, 81 afegãos foram enviados de volta ao país em um voo organizado pelo governo alemão — o segundo do tipo desde o início do controle do Talibã, com o Catar atuando como intermediário.

Agora, o governo de Merz prepara negociações diretas com o Talibã para expandir o número de voos. Como parte desse movimento, representantes do regime passaram a atuar em consulados afegãos na Alemanha, tornando o país o primeiro membro da União Europeia a permitir a presença oficial de diplomatas ligados ao grupo fundamentalista.

LEIA TAMBÉM:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*