Após megaoperação, moradores recolhem dezenas de corpos na Penha; mortos ultrapassam 100 no Rio

Em decorrência da operação mais letal da história do estado, corpos foram deixados em praça no Complexo da Penha; IML é fechado e clima é de tensão na Zona Norte
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA

Entre a noite de ontem e a manhã desta quarta-feira, 29 de outubro de 2025, ao menos 65 corpos foram levados à Praça São Lucas, no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio. Localizados em áreas de difícil acesso, no alto das comunidades e escondidos em matas e becos, alguns com tiros na nuca e facadas, sugerem que essas mortes não refletem a ação das forças de segurança, que atuaram em meio a tiroteios intensos visando proteger moradores e conter criminosos fortemente armados.

Segundo relatos locais, 25 corpos estavam em uma região de mata na Serra da Misericórdia, enquanto outros foram encontrados em diferentes pontos da comunidade. O comandante da Polícia Militar confirmou que os corpos não integram a contagem oficial da operação, mas reconheceu que a ligação entre as mortes e o confronto ainda não foi descartada.

Durante a madrugada, seis corpos foram deixados na porta do Hospital Getúlio Vargas, que também recebeu os feridos da operação. Até o momento, não há atualização sobre o estado de saúde dos sobreviventes. A retirada dos corpos foi feita por rabecões da Defesa Civil, conduzidos por bombeiros militares, sem presença policial no local. Testemunhas afirmaram que alguns dos mortos apresentavam marcas de tiros na nuca e sinais de facadas.

O Instituto Médico-Legal (IML) foi fechado nesta manhã para receber exclusivamente os corpos relacionados à operação. A Polícia Civil informou que os demais corpos que precisarem de necropsia serão enviados ao IML de Niterói.

Enquanto isso, familiares das vítimas se concentram em silêncio na sede do Detran, ao lado do IML, onde passam por triagem para identificação. O atendimento é acompanhado pela Defensoria Pública e pela Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência de Estado (Raave).

Rio em estado de choque

A Zona Norte do Rio amanheceu em clima de medo e silêncio. Ruas vazias, poucos carros e presença reforçada de patrulhas foram registrados em diferentes pontos da cidade. Em um percurso de 13 quilômetros, viaturas foram vistas em 12 locais distintos, principalmente na Linha Amarela, Avenida Braz de Pina e nas vias de acesso aos Complexos da Penha e do Alemão. Um carro branco queimado ainda bloqueia uma das entradas da Vila Cruzeiro — símbolo da devastação e da tensão que persistem após o confronto.

A fumaça que ainda paira sobre o morro e o cheiro de pólvora no ar são o retrato de uma cidade que amanheceu sem respostas. Entre corpos, medo e incredulidade, o Rio conta mais uma de suas tragédias — e ainda tenta entender quantas vidas, de fato, se perderam nessa madrugada.

Do outro lado da cena, a Polícia Militar afirma que a operação foi necessária para conter facções armadas que há anos dominam a região e impõem medo aos moradores. Segundo a corporação, a ação teve como alvo criminosos fortemente armados que reagiram à presença das forças de segurança, desencadeando os confrontos.

Para as autoridades, o saldo trágico é o reflexo da complexa realidade enfrentada nas comunidades — onde a linha entre o combate ao crime e a preservação da vida se torna, a cada dia, mais tênue.

Mesmo sob críticas e pressões, os agentes dizem agir sob risco constante, em meio a territórios dominados pela violência, tentando cumprir o dever de devolver a paz a uma cidade que há muito vive em guerra.

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