Israel enfrenta a maior onda de emigração das últimas décadas

Levantamento do Knesset mostra que mais de 145 mil cidadãos deixaram o país em meio à guerra e à falta de políticas de retenção
Por Chico Gomes | GNEWSUSA

Israel vive um movimento migratório sem precedentes. Entre 2020 e 2024, o país registrou um saldo negativo de cerca de 145.900 pessoas, número que reflete a diferença entre os que saíram e os que retornaram. Os dados constam em um relatório do Centro de Pesquisa e Informação (RIC) do Knesset, divulgado na última segunda-feira (20/10).

O documento, apresentado antes da reunião do Comitê de Imigração, Absorção e Diáspora, revela uma lacuna preocupante: o governo israelense não possui um plano estruturado para conter o êxodo nem para estimular o retorno dos expatriados.

De acordo com o levantamento, a migração cresceu de forma constante nos últimos anos. Em 2020, 34 mil israelenses deixaram o país, enquanto 32,5 mil retornaram. Em 2021, o número de partidas subiu para 43,4 mil, com apenas 23,6 mil retornos. O cenário se agravou a partir de 2022, com o início da guerra em Gaza: 59,4 mil deixaram o país em 2022 — um aumento de 44% —, e 82,8 mil em 2023, ampliando em 39% o fluxo de saída. O saldo negativo quase dobrou, atingindo 58,6 mil pessoas naquele ano.

Entre janeiro e agosto de 2024, o ritmo se manteve: 50 mil israelenses emigraram, enquanto apenas 12,1 mil decidiram voltar.

As principais cidades de origem desses emigrantes são Tel Aviv–Jaffa, que lidera com 14% das partidas, seguida por Haifa (7,7%), Netanya (6,9%) e Jerusalém (6,3%). A faixa etária predominante é de 30 a 49 anos, considerada a mais produtiva economicamente. Homens representam ligeira maioria, com 42.605 emigrantes contra 40.169 mulheres.

Durante a sessão do comitê parlamentar, o deputado Gilad Kariv, presidente da Comissão de Imigração e Absorção, descreveu o fenômeno como um “tsunami de saídas”.

“Muitos israelenses estão escolhendo construir seu futuro fora do Estado de Israel, e cada vez menos optam por retornar. Essa tendência ameaça a resiliência da sociedade israelense e deve ser encarada como um verdadeiro risco estratégico”, alertou.

Kariv atribuiu a responsabilidade ao governo Netanyahu:

Isto não é destino; é o resultado das ações do governo que fragmentaram a sociedade antes da guerra e negligenciaram a frente civil nos últimos dois anos.”

Analistas citados no relatório alertam que, sem uma resposta política efetiva, o país corre o risco de perder uma geração de profissionais qualificados, agravando as tensões sociais e econômicas no contexto da guerra em Gaza.

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