
Estudo revela que um terço dos casos é identificado apenas após o primeiro ano de vida, reforçando a importância da detecção precoce
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA
No Dia Mundial da Paralisia Cerebral, celebrado em 6 de outubro, um levantamento do Registro Brasileiro de Paralisia Cerebral (RB-PC) traz um retrato detalhado sobre a condição no país e reforça a urgência do diagnóstico precoce. A paralisia cerebral (PC) é a deficiência motora mais comum da infância, afetando cerca de 18 milhões de pessoas em todo o mundo.
Segundo os dados nacionais, aproximadamente 500 mil brasileiros — entre crianças e adultos — convivem com a condição. Todos os anos, cerca de 8 mil bebês e até 1.500 crianças em idade pré-escolar recebem o diagnóstico. O tipo espástico é o mais frequente, representando 74,9% dos casos, índice próximo à média internacional.
De acordo com o neurologista Philipe Marques Cunha, da Afya Educação Médica de Belo Horizonte, a paralisia cerebral é um grupo de distúrbios causados por lesões ou anormalidades no cérebro em desenvolvimento, geralmente antes, durante ou logo após o nascimento. “Essa condição é permanente, mas na maioria dos casos não progressiva, e compromete o controle motor, podendo afetar o desenvolvimento global da criança”, explica.
O levantamento mostra que até 90% dos casos têm origem na gestação ou no período neonatal. Entre os participantes, 50,3% nasceram prematuramente, e 71,6% das lesões ocorreram antes do nascimento ou nos primeiros 28 dias de vida. A prematuridade e o baixo peso ao nascer aparecem como fatores de risco importantes, devido à vulnerabilidade do cérebro em formação.
Outro dado que acende um alerta é o atraso no diagnóstico: 33,6% das pessoas só recebem a confirmação após completarem 1 ano de idade. Segundo o Dr. Philipe, identificar precocemente os sinais é essencial para iniciar terapias de reabilitação que melhoram o desenvolvimento motor, reduzem sequelas e ampliam a qualidade de vida.
“O diagnóstico é clínico e envolve a observação do desenvolvimento motor e do tônus muscular, associado a exames de imagem, como ressonância magnética”, detalha o especialista.
Em escala global, o cenário também é desafiador: 1 em cada 4 crianças com paralisia cerebral não consegue falar, 1 em cada 3 não anda, e cerca de metade apresenta algum grau de deficiência intelectual. Os primeiros sinais podem incluir dificuldade para sustentar a cabeça, atraso no controle postural, rigidez ou flacidez muscular, movimentos assimétricos e irritabilidade incomum.
A pesquisa reforça o papel essencial do diagnóstico precoce e da intervenção interdisciplinar para que cada criança com paralisia cerebral tenha acesso ao máximo potencial de desenvolvimento e inclusão.
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