
Com aumento de impostos e dívida em alta, brasileiros e setor produtivo sofrem os efeitos da desordem nas contas públicas e da falta de controle dos gastos do governo
Por Ana Raquel |GNEWSUSA
O Brasil deve encerrar 2025 com nova alta na carga tributária e risco de rombo nas contas públicas, mesmo após registrar arrecadação recorde em todas as esferas do poder. O cenário revela um paradoxo: o país nunca recolheu tantos impostos, mas continua gastando acima do que arrecada. O resultado é uma escalada da dívida pública e um ambiente de desconfiança entre investidores e agentes do mercado financeiro.
Segundo estimativas da Receita Federal, a soma de tributos cobrados pela União, Estados e municípios já representa mais de 34% do Produto Interno Bruto (PIB) — a maior marca da série histórica. Mesmo assim, o governo não tem conseguido conter o avanço das despesas obrigatórias, impulsionadas pelo aumento do salário mínimo, pela expansão de benefícios previdenciários e pela ampliação de programas sociais.
Para o economista Ecio Costa, professor da UFPE, a política fiscal segue fora de controle.
“O governo arrecada como um país rico, mas gasta como se não houvesse amanhã. Essa combinação é explosiva e empurra o Brasil para um ciclo de endividamento sem fim”, afirma.
Gastos em expansão e dívida em alta
O endividamento do setor público brasileiro alcançou 77,6% do PIB em julho de 2025, segundo dados do Banco Central — o equivalente a R$ 9,6 trilhões em compromissos financeiros. Desde o início do atual governo, a dívida cresceu mais de cinco pontos percentuais, reflexo do avanço de despesas permanentes e da ausência de reformas estruturais capazes de conter o desequilíbrio fiscal.
De acordo com o economista José Ronaldo de Souza, da Leme Consultores, a valorização real do salário mínimo, embora positiva do ponto de vista social, gerou um efeito dominó sobre as contas públicas.
“Programas como o BPC e o Bolsa Família são atrelados ao mínimo. Cada reajuste, ainda que pequeno, amplia de forma significativa o gasto obrigatório do governo”, explica.
Enquanto isso, o custo dos juros da dívida pública continua entre os mais altos do mundo. Em 2024, o setor público consolidado registrou déficit nominal de 7,6% do PIB — cerca de R$ 920 bilhões, de acordo com o Banco Central.
A tendência, segundo especialistas e projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI), é que o saldo negativo se mantenha em 2025, pressionado pelo alto custo dos juros e pela expansão dos gastos obrigatórios.
O impacto direto do desequilíbrio
O desequilíbrio fiscal não é apenas um problema técnico — ele atinge diretamente empresas e trabalhadores. O aumento constante da carga tributária reduz a competitividade da indústria, encarece produtos, freia investimentos privados e mantém os juros elevados.
Na prática, o país vive um ciclo de estagnação econômica: o cidadão paga mais impostos, mas não vê melhorias em saúde, educação ou segurança. Além disso, o aumento da dívida eleva a percepção de risco, afasta investidores estrangeiros e pressiona o câmbio, alimentando a inflação.
“O Brasil vive um paradoxo fiscal. Arrecada como país desenvolvido, mas gasta como economia instável. Sem controle das despesas, o contribuinte continuará pagando a conta”, alerta o economista André Serigati, pesquisador do Insper.
Efeitos políticos: pressão crescente sobre Lula e o Congresso
No campo político, o rombo fiscal ameaça corroer a credibilidade do governo Lula, que prometeu zerar o déficit público até o fim de 2025. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta manter a confiança do mercado com o novo arcabouço fiscal, mas a regra admite déficits sucessivos, o que tem frustrado o setor produtivo e investidores.
A fragilidade fiscal já causa tensão entre aliados no Congresso, que temem o desgaste de medidas impopulares, como novos aumentos de impostos ou cortes de benefícios sociais. Parlamentares da base demonstram resistência a qualquer projeto que amplie a carga tributária sobre empresas e consumidores, dificultando votações estratégicas no Legislativo.
Para a classe média, que sente o peso dos tributos e o aumento do custo de vida, cresce a frustração com o governo, visto como incapaz de transformar a arrecadação recorde em melhorias reais. Analistas políticos avaliam que a crise fiscal pode desgastar ainda mais a imagem de Lula, especialmente entre os eleitores que esperavam estabilidade e crescimento em seu terceiro mandato.
O cientista político Leonardo Barreto é categórico:
O governo é o principal responsável pelo descontrole fiscal. “Ou corta gastos e enfrenta desgaste político, ou mantém o ritmo atual e compromete de vez a economia.”
A condução econômica do presidente Lula tem agravado o desequilíbrio das contas públicas, ampliando a insatisfação da classe média, que paga mais e recebe menos.
Com dívida crescente, aumento de impostos e queda de credibilidade, o governo Lula enfrenta um teste decisivo: ou promove um ajuste real nas contas públicas, ou transforma o recorde de arrecadação em símbolo de ineficiência e perda de confiança nacional.
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