Crise nos Correios expõe falhas de gestão e rombo bilionário no governo federal do Brasil

Déficit de R$ 5,6 bilhões expõe falhas na administração pública e causa atrasos e cortes nos serviços postais em todo o país

Por Ana Raquel|GNEWSUSA 

Os Correios vivem o pior momento de sua história recente. Com rombo de caixa de R$ 5,6 bilhões e prejuízo acumulado de R$ 4,4 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta conter o colapso da estatal com um empréstimo de R$ 20 bilhões, garantido pelo Tesouro Nacional.

A medida busca impedir o colapso operacional da empresa, que enfrenta atrasos em entregas, corte de serviços e dificuldade para pagar fornecedores. O presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, confirmou a operação em coletiva nesta quarta-feira (15.out.2025). Ele assumiu o comando há menos de um mês e herdou uma estrutura considerada “à beira da insolvência”.

A origem do rombo

A crise atual é resultado de anos de desequilíbrio financeiro e decisões administrativas mal planejadas. Em 2024, os Correios consumiram R$ 2,9 bilhões de suas reservas de caixa, o equivalente a 92% dos recursos disponíveis, deixando a estatal sem liquidez para manter compromissos básicos.

A situação se agravou com a expansão de despesas internas, queda na receita com serviços postais e falta de investimentos estruturais. O prejuízo de R$ 4,4 bilhões registrado no primeiro semestre deste ano acendeu o alerta no Planalto.

De acordo com Rondon, a falta de caixa já comprometeu pagamentos a fornecedores e planos de saúde de funcionários, refletindo diretamente no consumidor final.

“Estamos com déficit de caixa há meses, e isso afetou nossa capacidade operacional. Precisamos restabelecer a normalidade nos pagamentos para garantir o funcionamento da empresa”, afirmou.

O plano bilionário

O empréstimo de R$ 20 bilhões será dividido em duas etapas: metade ainda em 2025 e o restante em 2026. O crédito, negociado com bancos públicos e privados — entre eles o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, tem garantia da União, o que significa que em caso de inadimplência, o Tesouro arca com a dívida.

Os recursos serão usados para recompor o capital de giro, financiar um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV) e renegociar contratos. Parte do valor substituirá empréstimos antigos, contratados em condições desfavoráveis, e servirá para ajustar obrigações trabalhistas e previdenciárias.

Segundo Rondon, “a garantia da União traz a vantagem de termos uma operação com custo menor, em prazo mais adequado, para permitir o reequilíbrio da empresa no médio e longo prazo”.

Cortes e ajustes internos

A nova gestão anunciou um plano de reestruturação em três eixos:

1. Redução de despesas – com corte de 20% no orçamento da sede, suspensão de férias, diminuição da jornada para 6 horas diárias e retorno integral ao trabalho presencial desde junho;

2. Diversificação de receitas – com venda de imóveis ociosos, criação de um marketplace próprio até o fim de 2025 e expansão de serviços logísticos;

3. Recuperação da liquidez – buscando captar R$ 3,8 bilhões junto ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como banco do Brics.

O novo PDV ainda não tem meta definida, mas o último, encerrado em maio, resultou na saída de 3,5 mil empregados.

Impacto na População

O rombo dos Correios já tem efeitos diretos no dia a dia da população. Entregas estão mais lentas, o atendimento nas agências foi reduzido, e transportadoras terceirizadas enfrentam atrasos de pagamento, o que compromete a distribuição em regiões do interior.

O plano de saúde dos funcionários chegou a ser suspenso temporariamente, gerando atrasos e paralisações parciais. Especialistas alertam que, se o socorro financeiro não surtir efeito, o serviço postal pode sofrer novos aumentos de tarifas e redução de agências físicas.

Desdobramentos Políticos

A articulação do empréstimo, feita diretamente pelo Palácio do Planalto, provocou reação da oposição. Deputados e senadores afirmam que a medida “escancara a má gestão e o descontrole fiscal” da estatal e representa mais um socorro bilionário a uma empresa deficitária.

Mesmo diante das críticas, Rondon rejeita a privatização dos Correios e garante que o foco é recuperar a estatal com recursos públicos.

“Nosso compromisso é devolver sustentabilidade e eficiência aos Correios sem abrir mão de seu papel social”, afirmou.

O governo projeta retorno ao lucro apenas em 2027, após a execução completa do plano. Até lá, o contribuinte seguirá arcando com os custos do resgate.

O custo do resgate

A crise dos Correios expõe a dificuldade do governo em equilibrar gasto público, eficiência e responsabilidade fiscal. O empréstimo de R$ 20 bilhões, embora necessário para evitar o colapso, reforça a dependência da estatal do caixa da União e pressiona as contas federais em um momento de restrição orçamentária.

Com a empresa fragilizada e a confiança abalada, resta saber se a gestão petista conseguirá reverter o quadro sem transferir a conta ao contribuinte — ou se o socorro apenas prolongará uma crise que já chega à casa dos bilhões.

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