Ação das polícias Civil e Militar, a maior da história do Rio, visa conter a expansão do Comando Vermelho e deixa saldo de mortos, incluindo quatro policiais; foram apreendidos 42 fuzis
Uma megaoperação das polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ), resultou em 60 mortos e 81 presos, se tornando a mais letal já registrada na história do estado.
A operação, realizada na manhã desta terça-feira (28), foi uma resposta ao avanço do Comando Vermelho (CV), que tem se expandido em diversos pontos do Rio de Janeiro e de outros estados do Brasil. Ao longo da ação, foram apreendidos 42 fuzis e cumpridos 51 mandados de prisão, com o objetivo de enfraquecer a facção e seus tentáculos nas favelas cariocas.
Confrontos violentos e uso de drones
O cenário de guerra urbana foi marcado por intensos tiroteios, que paralisaram a rotina da região. Criminosos utilizaram táticas de guerra nunca vistas antes no Rio de Janeiro, como o uso de drones para lançar granadas contra as forças policiais.
O Comando Vermelho empregou essa tecnologia para atacar equipes da Polícia Militar e do Bope (Batalhão de Operações Especiais), o que gerou um novo patamar de violência nas favelas.
As forças de segurança, mobilizando 2,5 mil policiais, enfrentaram barricadas formadas por veículos incendiados e um intenso fogo cruzado. Vários ônibus foram usados pelos traficantes como bloqueios, o que dificultou o avanço das tropas e complicou ainda mais a já tensa situação.
Além disso, houve relatos de que criminosos fugiram em grupos pela mata, usando o terreno para se esconder e escapar das investidas da polícia.
Balanço da operação: 60 mortos e 81 presos
O saldo da operação, até o final da manhã, foi de 60 mortos. Entre as vítimas estão quatro policiais, três da Polícia Civil e um do Bope, além de 56 suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas.
O confronto também resultou em ferimentos em oito policiais, alguns deles gravemente, e em quatro moradores, que foram atingidos pelos disparos. Três deles, incluindo uma mulher, foram baleados em suas casas, enquanto um morador, de acordo com a PM, foi atingido ao tentar fugir dos tiroteios.
Corpos de pessoas mortas em confronto da Polícia com o Comando Vermelho no RJ. Foto: Eduardo Anizelli.
Entre os presos, destacam-se importantes membros da cúpula do tráfico, incluindo Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como “Belão do Quitungo”, que é apontado como braço armado de Edgard Alves de Andrade, o “Doca”, chefe do CV na Penha.
Impacto na rotina da cidade
A operação, que envolveu mais de 2.500 policiais, causou grande tumulto na região. Moradores dos complexos da Penha e do Alemão utilizaram as redes sociais para relatar os intensos tiroteios e a violência nas ruas.
Diversas unidades de saúde, educação e transportes foram impactadas pela operação. As aulas foram suspensas em universidades como a UFRJ, UERJ e UFF, além de 46 escolas municipais, afetando milhares de estudantes.
Unidades de saúde também fecharam as portas temporariamente, e a Secretaria Municipal de Saúde avaliava a possibilidade de retomar os atendimentos nas próximas horas.
Guerra urbana e crise de segurança pública
A violência registrada nesta operação traz à tona a grave crise de segurança pública que o Rio de Janeiro enfrenta. O governador do estado, Cláudio Castro, fez duras críticas à falta de apoio do governo federal no enfrentamento do tráfico.
Em entrevista, Castro declarou que o Rio está sozinho em uma “guerra urbana”, que já ultrapassou as capacidades das forças de segurança estaduais.
“Essa operação tem muito pouco a ver com Segurança Pública. Estamos falando de uma verdadeira operação de Defesa do Estado. O Rio está sozinho nesse combate. Para uma guerra dessa magnitude, o apoio das Forças Armadas seria essencial”, disse o governador.
Presos na megaoperação da polícia civil e militar contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro. Foto: Aline Massuca.
A fala de Castro gerou repercussão política, com integrantes do governo federal afirmando que a declaração seria uma estratégia de antecipação para as eleições de 2026. No entanto, o pedido de ajuda federal foi negado por três vezes, o que acirrou o clima político entre o governo estadual e o federal.
O governo estadual também criticou a decisão do STF que limitou a atuação das forças de segurança nas comunidades, destacando que a expansão do crime organizado foi acelerada por essas limitações. Segundo as autoridades, a operação visou interromper esse processo de crescimento e enfraquecer a estrutura criminosa do CV.
Investigações e expansão do Comando Vermelho
A operação é resultado de mais de um ano de investigações sobre o Comando Vermelho, que, segundo a Polícia Civil e o Ministério Público, tem ampliado sua atuação, não apenas no Rio de Janeiro, mas em outros estados do Brasil.
A facção tem formado alianças com organizações criminosas locais, ao mesmo tempo em que abriga traficantes de outros estados nas favelas cariocas. A ação de hoje teve como foco 51 mandados de prisão, com a finalidade de desmantelar núcleos do CV que se expandem por áreas estratégicas do Rio, como a Zona Norte e a Zona Oeste.
Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a facção tem liderado a expansão do tráfico de drogas para outras regiões do Brasil, com traficantes vindos de estados como Bahia, Ceará, Rondônia e Minas Gerais. A atuação do CV em terras cariocas já foi considerada um ponto estratégico para o escoamento de drogas e armas, que alimentam o tráfico em diversas partes do país.
Reflexos na cidade e no futuro
A operação no Alemão e na Penha é a maior já realizada no estado do Rio de Janeiro em termos de letalidade. Com o número de mortos ainda sendo contabilizado, o impacto dessa ação será sentido por muitos nos próximos dias. A resposta do CV e a escalada da violência nas comunidades sublinham a necessidade de um esforço maior e mais coordenado entre as forças de segurança estaduais e federais.
As autoridades também alertaram para a possibilidade de represálias violentas por parte dos criminosos. A situação, já tensa, pode se agravar ainda mais nas próximas semanas, com os líderes do CV enfurecidos pela grande quantidade de mortes e prisões.
A operação do dia 28 de outubro ficará marcada como um ponto de inflexão no combate ao crime organizado no Rio de Janeiro, colocando em questão os limites da segurança pública no estado e a necessidade de uma resposta mais ampla e integrada para lidar com a crescente violência.
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