Estudo de 14 anos mostra que caminhar entre 3.000 e 7.500 passos diários pode atrasar em até sete anos o declínio cognitivo de pessoas com risco de Alzheimer — embora os pesquisadores ressaltem que a relação ainda é de associação, e não de causa e efeito
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Um estudo publicado recentemente na revista científica Nature Medicine revelou que mesmo pequenas quantidades de atividade física podem retardar o avanço do Alzheimer e de outras formas de demência. A pesquisa, conduzida por cientistas do hospital Mass General Brigham, nos Estados Unidos, acompanhou 296 pessoas entre 50 e 90 anos durante 14 anos. Nenhum dos participantes apresentava comprometimento cognitivo no início do estudo.
Os resultados mostraram que o declínio cognitivo foi retardado, em média, por três anos entre aqueles que caminhavam de 3.000 a 5.000 passos por dia, e por sete anos entre os que atingiam de 5.000 a 7.000 passos. Mesmo entre indivíduos com altos níveis de beta-amiloide — uma proteína associada ao Alzheimer —, o número de passos foi proporcional a uma taxa mais lenta de perda de memória e funções cognitivas.
“Estamos incentivando os idosos que correm o risco de desenvolver Alzheimer a considerarem pequenas mudanças em seus níveis de atividade, para criarem hábitos sustentáveis que protejam seu cérebro”, afirmou Wai-Ying Yau, principal autora do estudo, em entrevista ao The Guardian.
O Alzheimer é a forma mais comum de demência, afetando cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estudos anteriores já haviam apontado que cerca de 40% dos casos podem estar ligados a fatores modificáveis, como sedentarismo, tabagismo e hipertensão não controlada.
Os pesquisadores também investigaram como o exercício físico poderia afetar o acúmulo das proteínas beta-amiloide e tau, ambas relacionadas à degeneração dos neurônios. Eles observaram que indivíduos fisicamente ativos apresentaram menor acúmulo dessas proteínas e melhor desempenho em testes cognitivos ao longo dos anos.
Apesar dos resultados animadores, os cientistas reforçam que a pesquisa é observacional e, portanto, não prova causalidade direta. Ainda há a possibilidade de que pessoas com Alzheimer em estágio inicial caminhem menos devido às alterações cerebrais precoces — o que caracteriza a chamada “causalidade reversa”.
“Precisamos de ensaios clínicos controlados e randomizados para confirmar se o aumento da atividade física realmente retarda o avanço da doença”, ressaltou Yau.
Mesmo assim, a comunidade científica vê o estudo como um forte incentivo à adoção de hábitos simples e acessíveis. Caminhar alguns minutos por dia, somando cerca de três mil passos, já pode ser o suficiente para proteger o cérebro e melhorar a saúde geral.
De acordo com a neurologista Cláudia Suemoto, da Universidade de São Paulo (USP), “a caminhada regular ajuda na oxigenação cerebral, melhora o humor, regula o sono e reduz inflamações — todos fatores importantes para a saúde do cérebro”.
Os pesquisadores agora planejam expandir o estudo para um grupo maior e mais diverso de voluntários, com o objetivo de entender melhor como a intensidade e a frequência dos exercícios afetam o cérebro.
Enquanto isso, a recomendação é clara: pequenos passos podem fazer grande diferença.
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