Documentos do Coaf e da Receita mostram repasses de R$ 11,1 milhões de empresas ligadas a associações investigadas por descontos indevidos no INSS; Datacore ainda registra R$ 6,7 milhões a receber
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Documentos enviados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e pela Receita Federal à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS revelam que a Datacore Informática, empresa do secretário nacional de Ciência e Tecnologia da Informação do PT, Ricardo Bimbo Troccoli, recebeu mais de R$ 11,1 milhões de empresas apontadas como intermediárias de associações investigadas por fraudes em aposentadorias. As entidades teriam descontado ilegalmente R$ 493 milhões de beneficiários do INSS entre 2022 e 2025.
A Datacore e os repasses sob investigação
A Datacore Informática, sediada na região da Faria Lima, em São Paulo, tem Ricardo Bimbo como um dos sócios. Entre 2023 e 2024, a empresa recebeu R$ 8,3 milhões da ADS Soluções e Marketing, considerada pela Polícia Federal a principal operadora de repasses das associações suspeitas.
Além disso, a Datacore recebeu no mesmo período:
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R$ 1,4 milhão da G8 Cursos e Consultoria;
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R$ 121 mil da Sempre Empreendimentos;
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R$ 1,4 milhão de empresas controladas por José Luis Santos Jesus, apontado como intermediador do esquema.
Os documentos também mostram repasses diretos à conta pessoal de Bimbo: R$ 320 mil, provenientes da ADS.
Apesar do alto volume recebido, as demonstrações financeiras da Datacore indicam que a empresa declara ter a receber outros R$ 6,7 milhões, sendo R$ 5,6 milhões da ADS — que encerrou suas atividades em junho de 2025 — e R$ 1 milhão da G8.
Sede sem funcionários e custos incompatíveis
As demonstrações financeiras entregues à Receita Federal entre 2021 e 2024 mostram que a Datacore não possui registros de pagamento de salários e não declara propriedade do imóvel onde funciona.
A empresa afirma pagar apenas R$ 4 mil anuais de aluguel pela sede localizada em uma das regiões mais valorizadas de São Paulo — o equivalente a R$ 333 ao mês, valor extremamente abaixo do praticado no mercado.
Outro ponto identificado pelo Coaf é o envio de R$ 122 mil, em 2023, para a CH Soluções de TI, cujo sócio é beneficiário do Bolsa Família, recebendo R$ 300 mensais.
As associações envolvidas no esquema
As entidades citadas na investigação são:
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Universo
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APDAP/Acolher
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Asbrapi
As três ficam no Nordeste e firmaram Acordos de Cooperação Técnica com o INSS entre 2022 e 2023, o que permitiu a cobrança automática de mensalidades dos beneficiários.
Entre julho de 2022 e março de 2025, essas associações receberam:
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R$ 252 milhões – Universo
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R$ 224 milhões – APDAP/Acolher
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R$ 16,8 milhões – Asbrapi
Ao todo, o esquema movimentou R$ 493 milhões em descontos previdenciários.
A operadora dos repasses: ADS Soluções e Marketing
Criada em fevereiro de 2023, em Aracaju (SE), a ADS recebeu R$ 116 milhões entre 2023 e 2024, quase todo oriundo das associações.
Apesar da magnitude dos valores, o sócio formal da empresa é Ivaldo Carvalho Silveira, morador do interior de Sergipe, que chegou a solicitar auxílio emergencial em 2020.
A ADS também aparece conectada a servidores do INSS afastados, cujos familiares teriam recebido valores da empresa, segundo a Polícia Federal.
A companhia foi encerrada voluntariamente em junho de 2025.
Número de vítimas e ressarcimentos
Segundo dados enviados pela Dataprev à CPMI do INSS:
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299.536 pessoas pediram reembolso de cobranças indevidas.
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Houve 507 mil reclamações registradas após a abertura do canal de atendimento.
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824.736 beneficiários foram descontados pelas três associações.
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Até setembro de 2025, o governo devolveu R$ 190 milhões (45%) dos R$ 423 milhões descontados.
Nenhuma das reclamações foi respondida pelas associações envolvidas.
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