Governo Lula é acusado de incoerência ambiental às vésperas da COP 30

Perfuração de petróleo na Foz do Amazonas e falhas na organização expõem contradições do Planalto e colocam em xeque a imagem do Brasil diante do mundo

Por Ana Raquel |GNEWSUSA 

A COP 30, marcada para ocorrer entre 10 e 21 de novembro em Belém (PA), foi anunciada como o grande símbolo do compromisso ambiental do Brasil. Sediada no coração da Amazônia, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas poderia consolidar o país como referência global em sustentabilidade. Contudo, decisões controversas e falhas administrativas do governo Lula estão transformando o evento em um retrato de contradições políticas e ambientais.

A mais polêmica delas ocorreu em 20 de outubro de 2025, quando o Ibama autorizou a Petrobras a perfurar poços de petróleo na Foz do Amazonas, na chamada Margem Equatorial — uma das áreas mais sensíveis da biodiversidade marinha, a apenas 175 quilômetros da costa do Amapá.

O Planalto justifica que a exploração vai gerar recursos para a transição energética. Entretanto, especialistas e ambientalistas afirmam que a medida desmoraliza o discurso climático que o próprio governo tenta sustentar diante da comunidade internacional.

“Não há coerência em realizar a COP dentro da floresta amazônica enquanto se abre caminho para perfuração de petróleo em suas margens”, declarou Suely Araújo, coordenadora do Observatório do Clima.

Margem Equatorial: o novo pré-sal que ameaça o discurso verde

A Margem Equatorial é apontada pela Petrobras como o “novo pré-sal”, com potencial de até 10 bilhões de barris de petróleo. A estatal defende que a exploração é essencial para garantir a autossuficiência energética após 2030.
Entretanto, ambientalistas alertam para o risco de desastres ambientais e prejuízos irreversíveis às comunidades indígenas e ribeirinhas.

Mesmo diante das críticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sustenta que os lucros obtidos com o petróleo serão usados para “financiar a transição verde”. A promessa, porém, é recebida com ceticismo até por setores aliados, que apontam a distância entre o discurso e a prática ambiental do governo.

Belém: a vitrine da Amazônia e o espelho do abandono

A escolha de Belém como sede da COP foi anunciada como símbolo da conexão entre sustentabilidade e Amazônia. No entanto, a capital paraense sofre com problemas estruturais históricos — falta de saneamento, drenagem precária, enchentes constantes e altos índices de pobreza.

Críticos afirmam que as obras em andamento priorizam áreas turísticas e não resolvem questões sociais básicas. Para muitos, o evento virou uma maquiagem verde em uma cidade que precisa de políticas reais, e não de marketing ambiental.

“Belém precisa de infraestrutura, não de maquiagem verde”, disse um morador da capital.

Hospedagem caótica e desconforto diplomático

O evento deve receber cerca de 50 mil visitantes, mas Belém dispõe de pouco mais de 20 mil leitos. A solução emergencial do governo inclui o uso de navios de cruzeiro, escolas públicas e alojamentos militares.

Além disso, os preços de hospedagem dispararam — em alguns casos, chegando a R$ 2 milhões por dez dias. O abuso gerou mal-estar diplomático e protestos de países convidados, como Canadá, Áustria e Suécia, que questionaram a falta de planejamento e a inviabilidade de participação de delegações menores.

Culinária vetada e crise cultural

Outro episódio polêmico envolveu a proibição de pratos típicos paraenses como açaí in natura, tucupi e maniçoba, sob alegação de riscos sanitários. A decisão foi amplamente criticada por moradores, chefs e empresários, que classificaram a medida como “apagamento cultural”.

Após forte repercussão, o governo recuou, mas o episódio reforçou a percepção de desorganização e desconexão com a cultura local, manchando ainda mais a imagem da conferência.

Imagem internacional abalada

De acordo com levantamento da Quaest, as menções negativas à COP 30 subiram de 28% para 31% após a autorização da perfuração na Margem Equatorial. Já as menções positivas caíram para 22%, refletindo o desgaste do governo perante a opinião pública.

Analistas apontam que o Brasil perde credibilidade internacional ao pregar uma agenda verde enquanto libera exploração de petróleo e enfrenta caos logístico às vésperas do maior evento ambiental do planeta.

Conclusão

A COP 30 tinha tudo para colocar o Brasil no centro da diplomacia ambiental mundial. No entanto, as decisões do governo Lula expõem uma contradição evidente entre discurso e prática.
Em vez de consolidar o país como exemplo de sustentabilidade, o Planalto corre o risco de transformar o evento em símbolo da incoerência política e da falta de planejamento.

Enquanto o mundo cobra liderança e compromisso, o Brasil chega à COP 30 cercado por contradições — e com a imagem do governo manchada por decisões que cheiram a petróleo.

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