Lloyd Axworthy critica o projeto C-12, acusa o país de abandonar valores humanitários e defende o fim do acordo de asilo com os EUA
Por Chico Gomes | GNEWSUSA
Lloyd Axworthy, uma das vozes mais influentes na defesa de refugiados e ex-ministro da imigração do Canadá, fez um alerta contundente: o país estaria desmontando sua reputação histórica de nação acolhedora. Para ele, a mudança é consequência direta das novas diretrizes federais.
No centro das críticas está o projeto de lei de segurança de fronteira do governo Carney, o C-12. Axworthy aponta que a proposta limitaria o direito de solicitar asilo para quem já vive no Canadá há mais de um ano e daria ao governo poder para revogar vistos de residência permanente e outros documentos com base no nebuloso conceito de “interesse público”.
“Estamos nos fechando em uma bolha”, afirmou Axworthy, atribuindo o endurecimento das políticas à pressão de movimentos de direita anti-imigração. Ele lembrou que, durante seu mandato nos governos de Pierre Trudeau e Jean Chrétien, havia um compromisso firme com os direitos humanos e com a defesa dos refugiados — compromisso que, na sua visão, se perdeu.
Recém-aposentado da presidência do Conselho Mundial de Refugiados e Migração, Axworthy acusou o Canadá de discursar em defesa dos refugiados em arenas internacionais, como a ONU, enquanto adota internamente medidas que os prejudicam. Um exemplo é a proposta orçamentária que prevê “coparticipação” de refugiados no pagamento de tratamentos odontológicos e medicamentos cobertos pelo Programa Federal de Saúde Provisório. “Refugiados não chegam com contas bancárias”, ironizou.
O ex-ministro disse estar “perturbado” com o recuo acelerado do Canadá em suas obrigações na Convenção de Refugiados da ONU, especialmente a que proíbe devolver pessoas para países onde correm risco de vida.
Para restabelecer esse compromisso, Axworthy defende que o Canadá deve romper o Acordo de Terceiro País Seguro com os Estados Unidos — pacto que impede que solicitantes de asilo que pisaram primeiro em solo americano peçam proteção no Canadá.
Axworthy também criticou a condução geral da política migratória, marcada pela tentativa de reduzir entradas de residentes permanentes. Ele descreveu essa postura como “reativa” e “desalinhada”, comparando-a a “tentar consertar um avião em pleno voo”.
Ao mesmo tempo, responsabilizou o governo anterior, de Justin Trudeau, por adotar uma lógica excessivamente “empresarial”, focada em números crescentes de imigrantes sem planejamento proporcional para moradia, saúde e educação — fatores que contribuíram para os atuais gargalos. Na visão de Axworthy, o governo Carney precisa estabelecer uma política “coerente, eficaz e justa”, explicando com clareza os benefícios da imigração à população canadense.
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