Novo relatório revela que 316 milhões sofreram agressões apenas no último ano; adolescentes seguem entre as mais vulneráveis, e cortes no financiamento global agravam crise silenciosa
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
A violência física e sexual contra mulheres permanece uma emergência humanitária global. É o que revela o relatório mais abrangente já publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por agências da ONU, divulgado às vésperas do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, celebrado em 25 de novembro.
Segundo o documento, uma em cada três mulheres no planeta — cerca de 840 milhões — já sofreu violência física ou sexual ao longo da vida. Apenas em 2025, 316 milhões foram vítimas de agressões cometidas por um parceiro íntimo.
Os números mostram que, apesar de décadas de campanhas e legislações, o mundo não conseguiu reduzir significativamente a violência contra mulheres nos últimos 20 anos.
Estupro e violência fora de relações afetivas também crescem
Pela primeira vez, a ONU apresentou estimativas detalhadas sobre violência sexual cometida por não parceiros. Ao todo:
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263 milhões de mulheres já sofreram violência sexual por alguém que não o parceiro.
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Especialistas alertam que os números reais são ainda maiores, devido ao medo, estigma e falta de sistemas seguros para denúncias.
O relatório, que analisou dados de 168 países entre 2000 e 2023, aponta que crises humanitárias, conflitos e desigualdades estruturais ampliam o risco para mulheres e meninas.
Meninas de 15 a 19 anos vivem cenário alarmante
A violência começa cedo. Em 2024:
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12,5 milhões de adolescentes, de 15 a 19 anos, foram vítimas de violência física ou sexual por parceiros — equivalente a 16% de todas as meninas nessa faixa etária no mundo.
A OMS ressalta que essas experiências deixam marcas permanentes na saúde física, emocional e sexual.
Pandemia de violência e colapso no financiamento
Mesmo diante da gravidade, o financiamento global para prevenção está encolhendo. Em 2022, apenas 0,2% da ajuda internacional foi destinada ao combate à violência. Em 2025, esse valor caiu ainda mais, deixando projetos sociais, abrigos e programas de prevenção à beira do colapso.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, classificou a situação como “uma das injustiças mais ignoradas da humanidade” e reforçou que “atrás de cada número está uma vida destruída ou profundamente marcada”.
Consequências para toda a vida
O relatório aponta impactos severos para a saúde:
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Maior risco de gravidez indesejada;
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Infecções sexualmente transmissíveis;
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Depressão e transtornos mentais;
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Violência obstétrica;
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Ciclo de violência que se perpetua entre gerações.
Países lusófonos: Brasil registra índices elevados
A prevalência de violência por parceiro íntimo ao longo da vida entre países de língua portuguesa é a seguinte:
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Timor-Leste: 41,7%
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Angola: 33,9%
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São Tomé e Príncipe: 30,4%
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Moçambique: 24,4%
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Brasil: 19,3%
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Cabo Verde: 17,3%
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Portugal: 9,8%
Violência sexual cometida por não parceiros:
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Brasil: 6,4%
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Portugal: 5%
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São Tomé e Príncipe: 2,9%
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Angola: 1,5%
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Moçambique: 2,1%
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Timor-Leste: 2,1%
Exemplos de progresso mostram que mudança é possível
Apesar da crise global, há países demonstrando avanços reais. O relatório destaca:
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Camboja, que reformou leis, ampliou serviços, melhorou abrigos e implementou soluções digitais de prevenção.
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Equador, Libéria, Trinidad e Tobago e Uganda, que lançaram planos nacionais com financiamento garantido.
Esses países demonstram que compromisso político e investimento contínuo geram resultados concretos.
Apelo final da ONU: “Não há mais espaço para silêncio”
A OMS e a ONU pedem que governos adotem medidas urgentes:
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Ampliar programas de prevenção;
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Reforçar serviços de saúde, assistência social e justiça;
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Criar sistemas de dados robustos;
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Garantir leis que protejam e empoderem mulheres e meninas.
Para as agências da ONU, este é um momento decisivo:
“O mundo não pode mais aceitar a violência como inevitável. Cada governo precisa agir agora.”
- Leia mais:
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