Iniciativa Integrar forma 1.000 estrangeiros até o fim do ano e oferece qualificação, estágio e possibilidade de emprego efetivo em hotéis e restaurantes do país
Por Chico Gomes | GNEWSUSA
Em meio ao cenário de leis de imigração cada vez mais rígidas em Portugal, uma iniciativa tem ganhado destaque por apostar na formação e inclusão profissional de estrangeiros. Trata-se do programa Integrar, desenvolvido pelo Departamento Nacional de Turismo, pela confederação patronal de hotéis, bares e restaurantes e pela AIMA (Agência de Imigração e Asilo). A meta é qualificar 1.000 imigrantes até o fim do ano para atuar no setor hoteleiro e gastronômico — um dos que mais carecem de mão de obra.
O programa seleciona estrangeiros que estejam legalmente no país ou em processo de regularização, conectando-os a oportunidades de trabalho. Na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, há uma aula dedicada a técnicas com ovos. Entre os alunos está Laura, 34 anos, angolana, que teve de se reinventar após não conseguir emprego na área de psicologia do esporte.
“Organizar minha documentação levou tempo. Por isso, busquei este estágio. Não foi um problema, porque eu amo cozinhar. Mas sem isso seria difícil, porque a vida aqui é complicada. Se você quer ficar e não tem um emprego que lhe agrade, tudo fica mais duro. Estou descobrindo um mundo novo e é fascinante!”, relata.
Antes de entrar no programa, Laura já cogitava voltar para Angola. Hoje, comemora a oportunidade e deixa um alerta a quem pensa em se mudar para Portugal:
“Não venha com visto de turista se pretende ficar. Venha com visto de estudante, visto de trabalho ou algo que evite armadilhas. Imigrar já é difícil. Sem o visto certo, você pode ficar preso em problemas sem conseguir regularizar a situação.”
Laura integra um grupo de selecionados para formação em turismo, hotelaria e gastronomia: três meses de aulas em uma das 12 escolas de hotelaria do país e um mês de estágio em empresas parceiras. Um esquema que poderia parecer comum, não fosse o foco claro em acolher imigrantes que buscam recomeçar.
Segundo o instrutor de culinária João Antunes, a motivação é o diferencial. “Eles são extremamente motivados. O que noto é que muitos têm mais experiência de vida e valorizam demais essa chance. A vontade de aprender é evidente”, afirma.
Um dos 329 estabelecimentos parceiros do Integrar é o Hotel Vila Galé Ópera, em Lisboa. No restaurante do hotel, o indonésio Raas finalmente encontrou estabilidade após anos de trabalhos temporários.
“Em Portugal, como indonésio, é difícil encontrar emprego por causa do idioma. Então procurei um instituto para aprender português. Comecei o estágio há poucos meses e agora já consigo falar um pouco. Antes, eu só comia em fast food”, brinca.
Raas é um dos 15 estagiários contratados em regime permanente — algo raro na hotelaria portuguesa.
Para o gerente assistente do hotel, Victor Ferreira, o vínculo fixo transforma vidas:
“Um contrato permanente oferece segurança. Após o período de experiência, eles são efetivados, o que permite alugar um apartamento, solicitar um empréstimo ou até comprar uma casa.”
Apesar disso, Victor reconhece os desafios do setor, marcado por alta rotatividade. “É difícil manter funcionários por muito tempo. Trabalhar fins de semana e feriados pesa”, diz.
Outro ponto sensível são os salários. No Vila Galé Ópera, Raas — ainda em início de carreira — recebe 1.200 euros brutos, cerca de 330 euros acima do salário mínimo, o equivalente a aproximadamente R$ 7.400.
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