Enquanto a Organização das Nações Unidas convoca para a manutenção da moratória global, especialistas advertem que a retomada dos ensaios nucleares coloca em risco a população — com evidências que apontam para câncer, contaminação e efeitos duradouros
Por Paloma de Sá |GNEWSUSA
Com o risco de guerra nuclear elevado a níveis “alarmantes”, a ONU intensificou seu apelo para que nenhum Estado realize testes nucleares — sobre ou sob o solo. Segundo o porta-voz do secretário-geral, Farhan Haq, “os ensaios nucleares não podem ser permitidos em nenhuma circunstância”. Num momento em que potências mundiais novamente sinalizam testes, o alerta ganha contornos de urgência: além da escalada militar, ativar detonadores significa retomar emissões radioativas históricas cujas consequências médicas ainda repercutem.
Os efeitos humanos dos testes nucleares
Há décadas, estudos apontam que os testes nucleares — especialmente os atmosféricos — deixaram um legado de contaminação e impactos à saúde. Especialistas em radiologia e saúde pública explicam que as explosões liberam centenas de radionuclídeos que se espalham pelo ar e caem sobre o solo, atingindo alimentos, água e, consequentemente, o corpo humano.
Pesquisas internacionais estimam que a contaminação decorrente desses testes provocou dezenas de milhares de casos de câncer de tireoide e de outros tipos em regiões próximas aos locais de detonação. Em comunidades do Pacífico e do Cazaquistão, onde os testes foram mais intensos, os efeitos incluem aumento de doenças cardiovasculares, infertilidade, defeitos congênitos e contaminação ambiental persistente.
Após uma explosão nuclear, nuvens de material radioativo sobem para a atmosfera e podem ser transportadas por milhares de quilômetros antes de cair como precipitação — o chamado fallout. Esse material entra na cadeia alimentar por meio de leite, vegetais e água, provocando exposição interna (pela ingestão e inalação) e externa (pela radiação ambiente).
Principais riscos à saúde humana incluem:
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Câncer de tireoide, leucemia e outros tumores sólidos;
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Doenças cardiovasculares e reprodutivas;
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Defeitos congênitos em crianças de populações expostas;
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Contaminação prolongada de solos e águas subterrâneas, afetando gerações futuras.
Crianças e gestantes são especialmente vulneráveis, e mesmo pequenas doses de radiação, quando acumuladas, podem causar mutações genéticas e doenças crônicas ao longo do tempo.
Panorama internacional e o papel da ONU
A ONU reafirma que qualquer tentativa de retomar os ensaios nucleares representa uma ameaça direta à segurança global. A organização lembra que mais de 2 mil testes foram realizados desde 1945, com consequências ambientais e de saúde que ainda persistem.
Robert Floyd, secretário executivo da Organização do Tratado de Proibição Completa dos Ensaios Nucleares (CTBT), reforçou que a rede internacional de monitoramento é capaz de detectar qualquer explosão atômica em qualquer parte do planeta. Ele também renovou o apelo para que os países que ainda não ratificaram o tratado o façam, transformando a proibição em norma universal e reforçando a confiança entre as nações.
Por que este momento exige atenção
A retomada de testes nucleares representa não apenas um risco geopolítico, mas uma ameaça direta à saúde pública. Ativar novamente esses experimentos significa liberar substâncias radioativas que podem contaminar vastas regiões, com efeitos que surgem anos ou até décadas depois.
Mesmo os testes subterrâneos apresentam riscos: vazamentos e infiltrações radioativas podem atingir lençóis freáticos, contaminando a água e o solo. Além disso, a simples movimentação de material nuclear aumenta o perigo de acidentes e falhas de contenção.
Populações mais vulneráveis — como comunidades próximas a locais de teste, povos indígenas e países em desenvolvimento — historicamente são as mais afetadas, enfrentando um fardo desproporcional de doenças e contaminação.
Responsabilidade global e prevenção
A mensagem da ONU é clara e urgente: conter-se agora é evitar consequências incalculáveis amanhã. O apelo combina alerta técnico, sobre detecção e riscos, com um estímulo político para que os Estados deem prioridade ao desarmamento e à diplomacia, preservando os mecanismos que têm prevenido um regresso aos ensaios nucleares e à proliferação de armas.
Mais do que uma questão militar, trata-se de uma questão de saúde pública e de sobrevivência humana. O mundo já carrega cicatrizes profundas deixadas pela era dos testes nucleares — cicatrizes que não podem ser repetidas.
O apelo da ONU é direto: testes nucleares são incompatíveis com a segurança global e com a vida humana. Reativar ensaios é reabrir feridas que a humanidade ainda luta para cicatrizar. A ciência é clara, a história é prova, e a prevenção é a única escolha sensata.
A responsabilidade agora é coletiva — entre governos, instituições e cidadãos — para garantir que o futuro não repita os erros radioativos do passado.
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