Relatório revela avanço rápido, porém desigual, do uso de inteligência artificial em sistemas de saúde e expõe lacunas graves em segurança, ética e responsabilidade jurídica
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) acendeu um alerta global ao revelar que a integração da inteligência artificial (IA) nos sistemas de saúde está avançando sem o respaldo jurídico e ético necessário para proteger pacientes e profissionais. O documento, intitulado “Inteligência Artificial na Saúde: Estado de Preparação na Região Europeia da OMS”, mostra que apenas 4 países — o equivalente a 8% da região — possuem estratégias específicas para IA aplicada à saúde.
Apesar do uso crescente da tecnologia em diagnósticos, gestão de dados, triagem de pacientes e acompanhamento remoto, a regulamentação não acompanha a velocidade da inovação, deixando milhões de pessoas expostas a riscos.
Crescimento acelerado, pouca preparação
A diretora de Sistemas de Saúde da OMS/Europa, Dra. Natasha Azzopardi-Muscat, afirmou que a IA tem potencial para reduzir custos, aliviar a sobrecarga sobre profissionais exaustos e melhorar a qualidade da assistência. No entanto, ela alerta: sem salvaguardas robustas, a mesma tecnologia pode comprometer a privacidade e ampliar desigualdades no acesso à saúde.
A situação é desigual:
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4 países (8%) têm estratégias nacionais para IA na saúde;
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7 países (14%) estão desenvolvendo seus planos;
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A maioria usa IA, mas sem políticas claras de segurança e governança.
Estônia, Finlândia e Espanha aparecem como exemplos positivos, com plataformas integradas, formação de profissionais e testes de IA para detecção precoce de doenças.
Incerteza jurídica é barreira global
A falta de regulamentação é apontada como o maior entrave para o uso seguro da IA:
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86% dos países apontam a incerteza jurídica como principal barreira;
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Apenas 1 em cada 10 países possui regras de responsabilidade claras caso a IA cause um erro médico ou dano ao paciente.
O conselheiro regional da OMS para Dados e Saúde Digital, Dr. David Novillo Ortiz, explica que essa lacuna desestimula médicos e profissionais de saúde a confiar plenamente nas ferramentas. “Sem normas jurídicas claras, os médicos podem hesitar em usar a IA, e os pacientes podem não ter a quem recorrer se algo der errado”, afirmou.
Tecnologia avança, mas investimento não acompanha
Mesmo com insegurança jurídica, a presença da IA nos sistemas de saúde já é significativa:
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64% dos países utilizam diagnósticos assistidos;
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50% usam chatbots ou assistentes virtuais no atendimento;
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52% definiram áreas prioritárias para o uso da IA.
Entretanto, apenas 25% dos países destinaram recursos financeiros para transformar essas prioridades em práticas reais.
As principais motivações apontadas pelos governos incluem:
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melhoria do atendimento ao paciente (98%);
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redução da sobrecarga sobre profissionais da saúde (92%);
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aumento da eficiência e proatividade dos sistemas (90%).
Riscos à segurança e à equidade no acesso
O relatório destaca preocupações sérias da população sobre:
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segurança dos dados;
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justiça no acesso aos cuidados;
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privacidade;
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risco de diagnósticos incorretos por algoritmos treinados com dados incompletos ou tendenciosos.
A OMS lembra que pacientes esperam que médicos sejam responsáveis por suas decisões — mas os sistemas de IA dependem de algoritmos que nem sempre são transparentes ou plenamente compreendidos.
Se mal regulamentada, a IA pode:
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produzir diagnósticos incorretos;
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reforçar desigualdades;
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limitar o acesso a tratamentos;
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violar direitos de privacidade.
O que a OMS recomenda aos países
Diante do cenário preocupante, o relatório lista medidas urgentes:
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criar estratégias nacionais alinhadas com objetivos de saúde pública;
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estabelecer salvaguardas legais e éticas robustas;
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formar profissionais para o uso seguro da IA;
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ampliar a transparência com o público;
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melhorar a governança de dados entre fronteiras;
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investir em sistemas que protejam pacientes e profissionais.
O diretor regional da OMS para a Europa, Dr. Hans Henri P. Kluge, resumiu o desafio:
“A IA está prestes a revolucionar os cuidados de saúde, mas sua promessa só será alcançada se as pessoas e os pacientes permanecerem no centro de todas as decisões.”
- Leia mais:
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