Tecnologias digitais podem reduzir depressão e isolamento em pacientes com demência

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Novo estudo da OMS/Europa revela que a combinação de telemedicina, apoio comunitário e ambientes adaptados melhora o bem-estar de pessoas com demência e de seus cuidadores — contudo, implementação ainda exige atenção à equidade e usabilidade
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

Um levantamento recente conduzido pela OMS – Escritório Regional para a Europa em parceria com diversas universidades internacionais concluiu que a integração de tecnologias de saúde digitais — como telemedicina, monitoramento remoto e sistemas de apoio on-line — em ambientes adaptados para idosos e fortalecimento de redes comunitárias pode contribuir para a redução da depressão, da ansiedade e do sentimento de solidão entre pessoas que vivem com demência, ao mesmo tempo em que oferece alívio significativo aos cuidadores. O relatório reforça que, embora não curem a demência, essas ferramentas têm potencial concreto para promover melhor qualidade de vida, inclusão social e segurança para milhares de famílias em contextos de envelhecimento populacional.

Contexto e relevância
Com o envelhecimento acelerado da população na Europa — em que se prevê que o número de pessoas com 60 anos ou mais alcance cerca de 247 milhões até 2030 e ultrapasse 300 milhões até 2050 —, cresce também a demanda por sistemas de saúde e cuidados adaptados para idosos, incluindo aqueles que vivem com demência.
A demência, cuja forma mais comum é a Doença de Alzheimer, representa hoje uma das principais causas de incapacidade entre os idosos e figura como sétima principal causa de morte no mundo.

O que o estudo estudou
A pesquisa intitulada “An overview of reviews on telemedicine and telehealth in dementia care: evidence across clinical, psychological, behavioural, social, and economic domains. Applicability of telemedicine in dementia care” revisou quase 100 revisões científicas e incluiu cerca de 3 000 registros para sintetizar evidências sobre intervenções digitais em demência.
Ela investigou, entre outros aspectos:

  • o impacto dos serviços de telemedicina e tele-saúde sobre depressão, ansiedade, qualidade de vida e isolamento social;

  • a segurança, aceitabilidade e usabilidade entre pessoas com demência e cuidadores;

  • o papel de ambientes “amigos dos idosos” e redes comunitárias no sucesso das tecnologias.

Principais achados
A introdução de tecnologias digitais em cuidados à demência mostrou benefícios moderados em termos clínicos e psicológicos: foram observadas reduções de sintomas de depressão e ansiedade, e melhorias na satisfação e qualidade de vida para pacientes e cuidadores.
Em termos de segurança, algumas tecnologias de monitoramento remoto chegaram a registrar queda de até 63% dentro de ambientes domésticos, segundo o relatório da OMS.
A conclusão reforça que, para ter impacto real, as tecnologias precisam estar integradas com apoio comunitário robusto — por exemplo, iniciativas sociais em áreas rurais, redes locais de participação e ambientes adaptados para idosos — porque sozinhas dificilmente geram inclusão plena.
Todavia, a qualidade das evidências ainda é variável: muitos estudos apresentaram limitações metodológicas ou usabilidade reduzida em populações com menor familiaridade digital.

Recomendações e desafios
O relatório direciona recomendações para médicos, investigadores e formuladores de políticas públicas:

  • Desenvolver e adotar políticas que assegurem que “ninguém seja deixado para trás” na era digital — conceito reforçado por Natasha Azzopardi-Muscat, diretora de Sistemas de Saúde da OMS/Europa, que afirma que “tecnologia, quando usada com compaixão, pode conectar pessoas, aliviar a solidão e oferecer esperança às famílias afetadas pela demência”.

  • Investir em acessibilidade, usabilidade e alfabetização digital para idosos e cuidadores, de modo a reduzir a frustração ou fadiga relatada por usuários menos familiarizados com tecnologia.

  • Garantir que sistemas de saúde integrem essas ferramentas digitais nos seus fluxos de cuidado, e que ambientes físicos e sociais favoreçam a inclusão de pessoas com demência, alinhados com estratégias de envelhecimento saudável.

Implicações para o Brasil e para a prática
Embora o estudo tenha foco regional europeu, os achados têm relevância global — inclusive para o Brasil e para comunidades brasileiras no exterior —, na medida em que apontam caminhos para o fortalecimento dos cuidados a pessoas com demência e para o apoio aos cuidadores.
Para profissionais de saúde, gestores públicos, organizações de apoio à pessoa idosa ou à demência, e também para comunicadores na área de saúde, algumas ações possíveis são:

  • Divulgar boas práticas de telemedicina e de suporte digital para demência, adaptadas ao contexto local ou comunitário;

  • Valorizar a combinação da tecnologia com o componente comunitário e humano — lembrando que “tecnologia com propósito humano” é parte do cerne da mensagem da OMS;

  • Focar também na formação digital de idosos, cuidadores e familiares para que o acesso e a usabilidade não se tornem barreiras;

  • Avaliar e monitorar localmente esses sistemas de tele-saúde, de modo a gerar evidências adaptadas ao contexto brasileiro.

O novo relatório da OMS/Europa marca um avanço importante ao reunir evidências consolidadas de que as tecnologias digitais, quando bem integradas ao cuidado, podem melhorar a vida de pessoas com demência e de seus cuidadores. Entretanto, a transformação ainda depende de políticas, de infraestruturas adequadas, de inclusão digital e de uma abordagem centrada no ser humano.
Como destacou David Novillo Ortiz, conselheiro regional de Dados e Saúde Digital da OMS/Europa, “embora as ferramentas digitais não curem a demência, elas podem melhorar de forma mensurável a qualidade de vida de pacientes e cuidadores”.

Para editorias voltadas à saúde pública e tecnologia, o tema oferece múltiplas linhas de reportagem — desde a adaptação dessas tecnologias em realidades de países de língua portuguesa até entrevistas com cuidadores, profissionais de saúde digital e usuários que experimentaram a telemedicina no cuidado à demência.

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