Uma Só Saúde: conceito que une humanos, animais e meio ambiente ganha força no Brasil e no mundo

Reconhecida pela OMS e pelo Ministério da Saúde, a abordagem “Uma Só Saúde” propõe ações integradas para prevenir doenças, proteger ecossistemas e garantir o futuro da vida no planeta
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

Você sabia que a maioria das doenças infecciosas que surgiram nas últimas décadas tem origem em animais? De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 60% das doenças humanas são transmitidas de animais para pessoas — e 75% das doenças emergentes também têm essa origem. Esse dado alarmante reforça a importância do conceito “Uma Só Saúde” (ou One Health), uma abordagem que reconhece que a saúde humana, animal e ambiental estão profundamente interligadas.

O que é o conceito de “Uma Só Saúde”

Formalizado por organismos internacionais como a OMS, a Organização Mundial da Saúde Animal (WOAH) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o conceito de One Health parte de um princípio simples e urgente: não existe saúde humana sem a saúde dos animais e do meio ambiente.
A ideia ganhou força globalmente após a pandemia de Covid-19, quando ficou evidente a necessidade de fortalecer a vigilância de doenças com foco nas conexões entre humanos, fauna e meio ambiente.

“As lacunas no conhecimento, prevenção e abordagens integradas ao conceito de Uma Só Saúde foram vistas como os principais impulsionadores da pandemia”, destaca a OMS. “Por abordar as conexões entre a saúde humana, animal e ambiental, ele é visto como uma abordagem transformadora para melhorar a saúde global.”

A aplicação no Brasil

No Brasil, o conceito resultou na criação do Comitê Nacional de Uma Só Saúde, instituído pelo Decreto nº 12.007/2024, com o objetivo de desenvolver um plano nacional de prevenção e controle de ameaças à saúde.
Instituições científicas e centros de pesquisa, como o Instituto Butantan, vêm incorporando o tema em suas ações e projetos. Este ano, o Instituto promove a Reunião Científica Anual com o tema “Uma Só Saúde, muitos desafios: a ciência em movimento no Instituto Butantan”.

“A nossa atuação envolve desde a conservação de serpentes e outros animais vulneráveis até o estudo de venenos com grande relevância para a saúde pública”, explica Cristiane Schilbach Pizzutto, médica veterinária e responsável técnica pelo Laboratório de Ecologia e Evolução (LEEv) do Butantan.
O Instituto também investe em imunobiológicos contra arboviroses, como as vacinas contra dengue e chikungunya, reforçando a importância da ciência integrada para conter doenças transmitidas por vetores.

A origem e a importância do conceito

O termo One Health começou a ser amplamente discutido nos anos 2000, quando pesquisadores e instituições internacionais passaram a defender estratégias conjuntas para enfrentar doenças emergentes e reemergentes.
A degradação ambiental, o desmatamento, o tráfico de animais silvestres e as mudanças climáticas estão entre os principais fatores que aumentam o risco de transmissão de vírus e bactérias entre espécies.

A OMS lista diversas doenças de origem animal que ainda representam grandes ameaças à humanidade, como Covid-19, ebola, zika, febre amarela, mpox (varíola dos macacos) e HIV, todas com hospedeiros animais.

Nos grandes centros urbanos, esse desequilíbrio é visível. Cristiane Pizzutto alerta que o aumento de casos de febre maculosa brasileira está diretamente ligado à destruição dos habitats naturais das capivaras.
“É um erro considerar as capivaras que habitam as grandes cidades como animais bem adaptados. Elas vivem expostas à poluição, ao risco de atropelamentos e carregam carrapatos vetores da doença. Elas se aproximam por sobrevivência — fomos nós que invadimos o espaço delas”, afirma.

Ações globais

Em escala internacional, a Iniciativa Quadripartite, composta pela OMS, WOAH, FAO e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), lidera ações voltadas à proteção da saúde planetária.
Em 2021, o grupo criou o Painel de Especialistas de Alto Nível em Uma Só Saúde (OHHLEP), com a missão de oferecer aconselhamento científico e político para antecipar riscos, proteger ecossistemas e orientar políticas públicas.

Avanços brasileiros

O Ministério da Saúde incorporou oficialmente o conceito de Uma Só Saúde às políticas públicas, destacando frentes de atuação como:

  • Vigilância, prevenção e controle de zoonoses e doenças tropicais negligenciadas;

  • Segurança alimentar e sustentabilidade agroambiental;

  • Prevenção e resposta a epidemias e pandemias;

  • Combate à resistência antimicrobiana;

  • Proteção da biodiversidade e gestão de ecossistemas.

Segundo a OMS e o Ministério da Saúde, a aplicação plena dessa abordagem exige cooperação entre diferentes áreas do conhecimento, indo da medicina veterinária e biologia até a saúde pública e as ciências ambientais.

O futuro é interconectado

Para Cristiane Pizzutto, o desafio é conscientizar a sociedade sobre essa interdependência:

“A construção da ideia dessa interconexão é fundamental em cada um de nós. Somente assim as pesquisas alcançarão robustez e se traduzirão em ações efetivas para Uma Só Saúde em sua real essência.”

  • Leia mais:

https://gnewsusa.com/2025/11/espanha-aposta-na-imigracao-para-impulsionar-economia-e-enfrentar-envelhecimento-populacional/

https://gnewsusa.com/2025/11/trump-chama-obra-da-cop30-de-escandalo-e-acusa-brasil-de-devastar-floresta-para-evento-da-onu/

https://gnewsusa.com/2025/11/regulamentacao-do-cultivo-da-cannabis-medicinal-tem-prazo-prorrogado-pelo-stj-no-brasil/

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*