Bispo de Ohio dispensa fiéis da missa por temor de ações migratórias

Medida temporária busca proteger famílias diante do aumento de operações do ICE no estado

Por Chico Gomes |GNEWSUSA

O bispo de Columbus, no estado de Ohio (EUA), Earl Fernandes, concedeu dispensa temporária da obrigação de participação na missa dominical aos fiéis que temem ações de fiscalização migratória. A decisão vale até o dia 11 de janeiro do próximo ano.

A medida foi anunciada pelo bispo por meio de carta e vídeo, após relatos de aumento do receio entre paroquianos, especialmente da comunidade hispânica, em razão da intensificação das atividades do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE). As ações fazem parte da chamada Operação Buckeye, iniciada em 16 de dezembro, com foco na identificação e prisão de imigrantes ilegais envolvidos em crimes graves em Columbus e em outras regiões de Ohio.

Em entrevista, Fernandes afirmou que passou a receber mensagens de padres de diversas paróquias relatando queda significativa na frequência às missas e eventos religiosos, motivada pelo medo de abordagens migratórias nas imediações das igrejas e até de escolas católicas.

Disseram-me que havia movimentação de agentes de imigração em frente às paróquias e escolas. Em algumas comunidades, o número de participantes nas celebrações tradicionais de Natal caiu pela metade ou até mais”, relatou o bispo.

Apesar de destacar a importância central da missa e dos sacramentos na vida cristã, Fernandes explicou que a dispensa foi concedida para que as famílias pudessem viver o período natalino sem medo. “As pessoas precisam da missa mais do que nunca, mas também precisam se sentir seguras para estar juntas”, afirmou.

Durante uma celebração realizada no dia 20 de dezembro, o bispo contou que um pároco avistou um veículo do ICE nas proximidades da igreja. Por precaução, a tradicional procissão da Posada, que normalmente ocorre ao ar livre, foi realizada dentro do templo. Ainda assim, a presença de fiéis foi menor do que o esperado.

Segundo Fernandes, alguns padres relataram que apenas um terço ou até um quarto da congregação compareceu às missas daquele fim de semana. “O clima de medo afastou muitas pessoas”, lamentou.

O bispo também mencionou situações familiares complexas vividas por muitos fiéis, como lares em que um dos cônjuges possui documentação regular e o outro não, ou casos em que filhos cidadãos americanos têm pais em situação migratória irregular.

Em Columbus, uma parte significativa da comunidade católica hispânica é de origem mexicana. Fernandes lembrou que muitos são descendentes dos Cristeros, grupo que resistiu à perseguição religiosa no México nas décadas de 1920 e 1930.

Na missa do Galo, realizada na catedral, a presença de fiéis foi maior. Segundo o bispo, muitos acreditaram que o local seria mais seguro. “Eles se sentiram protegidos na catedral”, afirmou.

Além da comunidade hispânica, a diocese abriga um grande número de fiéis africanos, especialmente migrantes com famílias numerosas, além de comunidades multiétnicas formadas por nigerianos, filipinos e haitianos. De acordo com Fernandes, o receio também atinge esses grupos, sobretudo a comunidade haitiana, cujo status de proteção temporária (TPS) expira em fevereiro do próximo ano.

A dispensa concedida pela diocese permanece válida até 11 de janeiro, quando a situação será reavaliada ao fim do período natalino.

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