Estudo internacional com quase 10 mil mulheres indica que hábito diário simples pode influenciar a densidade óssea após os 65 anos
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Beber chá regularmente pode estar associado a ossos ligeiramente mais fortes em mulheres idosas, enquanto o consumo excessivo de café pode ter o efeito oposto, especialmente quando combinado ao uso frequente de álcool. Essa é a principal conclusão de um estudo científico publicado em dezembro de 2025 na revista Nutrients, conduzido por pesquisadores da Universidade Flinders, na Austrália.
A pesquisa analisou dados de 9.704 mulheres com 65 anos ou mais, acompanhadas por um longo período no âmbito do Study of Osteoporotic Fractures (SOF), um dos maiores e mais respeitados estudos observacionais sobre saúde óssea em mulheres idosas. O objetivo foi avaliar se o consumo diário de chá ou café estava associado a mudanças na densidade mineral óssea — um indicador-chave para o diagnóstico de osteoporose e risco de fraturas.
O que é densidade mineral óssea e por que ela importa
A densidade mineral óssea (DMO) mede a quantidade de minerais, como cálcio, presente nos ossos. Quanto menor essa densidade, maior a fragilidade óssea e o risco de fraturas, especialmente no quadril e no colo do fêmur — regiões críticas para a autonomia e a qualidade de vida de idosos.
A osteoporose afeta cerca de uma em cada três mulheres acima dos 50 anos e, muitas vezes, evolui de forma silenciosa, sendo detectada apenas após uma fratura. Por isso, fatores associados à preservação da massa óssea ao longo do tempo têm grande relevância em saúde pública.
Chá: associação positiva, ainda que modesta
Utilizando exames de densitometria óssea por DXA (raio X de dupla energia), os pesquisadores observaram que as mulheres que consumiam chá apresentavam densidade mineral óssea ligeiramente maior no quadril quando comparadas às que não bebiam a infusão.
Segundo os autores, embora o efeito seja pequeno em termos individuais, mesmo diferenças discretas podem resultar em menos fraturas quando aplicadas a grandes populações. Compostos bioativos presentes no chá, como flavonoides e polifenóis, são apontados como possíveis responsáveis pelo efeito protetor, por sua ação antioxidante e anti-inflamatória.
O benefício foi observado inclusive entre mulheres com obesidade, grupo que costuma apresentar maior risco de alterações metabólicas associadas à saúde óssea.
Café: consumo moderado é seguro, excesso preocupa
O estudo não identificou prejuízos significativos à saúde óssea entre mulheres que consumiam café de forma moderada. No entanto, o consumo elevado — acima de cinco xícaras por dia — esteve associado a menor densidade mineral óssea, especialmente entre aquelas que também relataram alto consumo de álcool ao longo da vida.
Pesquisas laboratoriais anteriores já indicavam que a cafeína pode interferir na absorção de cálcio e no metabolismo ósseo. Os próprios autores ressaltam, contudo, que esses efeitos tendem a ser pequenos e podem ser parcialmente compensados com ingestão adequada de cálcio, vitamina D e até com a adição de leite ao café.
Associação não é causa: o que os resultados realmente significam
Os pesquisadores enfatizam que se trata de um estudo observacional, o que significa que ele identifica associações, e não relações diretas de causa e efeito. Em outras palavras, o chá não deve ser encarado como um tratamento contra a osteoporose, nem o café como um vilão absoluto.
Ainda assim, os resultados reforçam a ideia de que hábitos cotidianos simples, mantidos ao longo dos anos, podem influenciar a saúde óssea na velhice, somando-se a fatores já bem estabelecidos, como alimentação equilibrada, prática de atividade física, exposição solar adequada e acompanhamento médico.
O que dizem os pesquisadores
Para os autores do estudo, as conclusões não indicam mudanças radicais de comportamento, mas sim escolhas mais conscientes. “Embora o consumo moderado de café pareça seguro, ingestões muito elevadas podem não ser ideais para mulheres mais velhas, especialmente aquelas que consomem álcool”, afirmam.
Eles destacam ainda que o cálcio e a vitamina D continuam sendo pilares fundamentais da saúde óssea, mas que o conteúdo da xícara diária — seja chá ou café — também pode desempenhar um papel complementar.
Um pequeno hábito, possível impacto coletivo
Para mulheres idosas, uma xícara diária de chá pode ser mais do que um ritual reconfortante: pode representar um pequeno passo adicional na preservação da saúde óssea. Já o café, apreciado com moderação, segue sendo compatível com um estilo de vida saudável.
A ciência reforça, mais uma vez, que equilíbrio, constância e informação continuam sendo os melhores aliados do envelhecimento com qualidade.

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