Com rombo de R$ 6,1 bilhões, estatal depende de socorro urgente e enfrenta exigências duras de bancos para evitar o calote
Por Ana Raquel |GNEWSUSA
A situação dos Correios chegou ao ponto mais crítico das últimas décadas. Com um rombo acumulado de R$ 6,1 bilhões até setembro, a estatal corre contra o relógio para garantir o pagamento do 13° salário de milhares de funcionários — algo que antes era considerado automático, mas agora virou incerteza.
O prazo fatal é 20 de dezembro, e internamente a direção admite que não há caixa suficiente para honrar a folha sem um socorro emergencial.
Socorro emperrado: Tesouro não pode liberar e bancos exigem condições duríssimas
Para tentar evitar um calote institucional, a empresa trabalha com duas frentes:
1. Aporte direto do Tesouro
A opção mais simples na teoria é inviável na prática. O governo só pode injetar recursos seguindo o arcabouço fiscal, conjunto de regras que limita gastos. Isso significa que o repasse seria lento, burocrático e provavelmente não sairia antes do Natal.
A alternativa — crédito extraordinário, usado apenas em casos imprevisíveis e urgentes — já foi rechaçada pelo ministro da Fazenda.
2. Empréstimo de R$ 20 bilhões com bancos
É a rota considerada mais rápida, mas enfrenta um muro:
• Bancos pedem juros de quase 20% ao ano, mesmo com o governo como fiador.
• As instituições (BB, BTG, Citi, ABC Brasil e Safra) avaliam a operação como altamente arriscada.
• Exigem um plano de reestruturação completo, com previsões reais de corte de gastos, digitalização, revisão de contratos e fechamento de unidades.
Até agora, o plano apresentado pelos Correios foi considerado genérico demais e incapaz de garantir que a estatal volte ao azul.
Reestruturação tímida e pressão política
O governo chegou a publicar um decreto autorizando a União como garantidora da operação bancária, mas condicionou a assinatura a um plano robusto de reorganização interna.
A direção dos Correios anunciou:
• Fechamento de agências deficitárias;
• Um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV);
• Redução de custos operacionais.
Especialistas, porém, alegam que a reestruturação é “cosmética”, não enfrenta os verdadeiros problemas da estatal e dificilmente mudará seu destino sem cortes mais profundos.
Associação defende intervenção do governo e vê risco à universalização do serviço
A ADCAP, que representa profissionais dos Correios, afirma que a responsabilidade final é da União — único acionista da empresa.
Segundo a entidade:
• Os Correios historicamente se financiaram sozinhos,
• Custeiam R$ 5 bilhões por ano para garantir presença em todos os municípios,
• Mas o modelo se tornou insustentável.
A associação cobra que o governo assuma sua responsabilidade para “evitar o desmonte da maior rede logística do país”.
Crise expõe falhas antigas e alimenta debate ideológico
O colapso reacende uma discussão já conhecida: a estatal pode continuar existindo do jeito que está?
Do lado mais alinhado à direita — onde se concentra parte dos críticos ao modelo estatizado — a crise é vista como resultado de anos de gestão politizada, inchaço, ineficiência e ausência de modernização.
Para esse setor, a situação atual comprova a necessidade de abertura ao setor privado, parcerias, concessões ou até privatização parcial — temas que vinham sendo debatidos em governos anteriores, mas foram completamente abandonados após 2023.
Relógio correndo: o que acontece se nada for aprovado?
Sem o empréstimo ou sem aporte:
• Não há garantia de pagamento do 13° salário,
• Fornecedores podem interromper serviços,
• Entregas podem atrasar,
• E a estatal pode entrar em um ciclo de insolvência difícil de reverter.
Dentro dos Correios, a palavra mais ouvida nos últimos dias é “colapso”.
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