Tradição barulhenta expõe impactos graves na saúde neurológica, emocional e física de pessoas no espectro autista e de milhões de animais
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Enquanto fogos de artifício continuam sendo usados como símbolo de comemoração em festas públicas e privadas, cresce a preocupação com os danos reais e silenciosos que essas explosões provocam em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e em animais domésticos e silvestres. O barulho intenso, imprevisível e repetitivo não representa apenas incômodo: trata-se de um fator de risco à saúde, ao bem-estar e, em casos extremos, à vida.
Impactos severos em pessoas autistas
Para indivíduos no espectro autista, a hipersensibilidade auditiva é uma característica comum. Sons altos e inesperados, como os fogos de artifício, podem desencadear crises sensoriais intensas, caracterizadas por dor física, ansiedade extrema, desorientação, pânico e perda de controle emocional.
Em crianças e adultos autistas, essas crises não são “exageros” ou “falta de tolerância”, mas respostas neurológicas involuntárias a estímulos que o cérebro não consegue filtrar adequadamente. Há relatos frequentes de regressões comportamentais, noites sem dormir, episódios de automutilação e necessidade de atendimento médico após eventos com fogos.
Além disso, o sofrimento muitas vezes é invisível para quem está fora do espectro, o que contribui para a negligência social do problema.
Animais: medo, fuga e morte
Os danos causados aos animais são igualmente alarmantes. Cães e gatos possuem audição muito mais sensível do que a humana. O estrondo dos fogos pode causar taquicardia, tremores, salivação excessiva, tentativas desesperadas de fuga e acidentes graves.
Casos de animais que se machucam ao pular muros, quebrar janelas ou fugir para ruas movimentadas são comuns em datas comemorativas. Em situações mais extremas, o estresse agudo pode levar a paradas cardíacas, especialmente em animais idosos ou com doenças pré-existentes.
A fauna silvestre também sofre. Aves abandonam ninhos, filhotes se perdem, e há registros de mortes por choques contra estruturas urbanas após explosões noturnas.
Uma tradição que precisa ser repensada
O argumento da “tradição” tem sido cada vez mais questionado diante das evidências científicas e do avanço das políticas públicas de inclusão e proteção animal. Tecnologias de fogos silenciosos, shows de luzes e outras formas de celebração já existem e são utilizadas com sucesso em diversas cidades ao redor do mundo.
Manter práticas que causam sofrimento evitável levanta um debate ético: até que ponto a diversão de alguns justifica a dor de outros?
Análise crítica
Segundo Paloma de Sá, formada em Ciências Biológicas e jornalista da GNEWSUSA:
Como bióloga, não posso ignorar os impactos fisiológicos e neurológicos que os fogos de artifício causam. O estresse agudo provocado por estímulos sonoros intensos ativa respostas hormonais que desregulam o organismo, tanto em humanos quanto em animais. No caso das pessoas autistas, há um agravamento direto de condições neurossensoriais já existentes. Nos animais, trata-se de uma reação de sobrevivência diante de um perigo que eles não compreendem.
A ciência é clara: não se trata de sensibilidade excessiva, mas de limites biológicos. Quando a sociedade escolhe ignorar esses limites, ela falha em um princípio básico da convivência ética — o respeito à vida em todas as suas formas.
Celebrar não deveria significar causar dor. Evoluir como sociedade implica rever costumes à luz do conhecimento científico, da inclusão e da empatia.
Mensagem final
Mesmo que você não veja a dor do outro, ela importa.
Importa para a criança autista que entra em crise.
Importa para o animal que treme de medo.
Importa para uma sociedade que se diz inclusiva, mas ainda normaliza o sofrimento invisível.
Repensar o uso de fogos de artifício não é abrir mão da celebração. É escolher humanidade.
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