Investigação da BBC revela rede que desviou milhões arrecadados para crianças com câncer

Apuração internacional aponta uso de campanhas emocionais e vídeos encenados para arrecadar doações que não chegaram às famílias
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

Uma investigação do Serviço Mundial da BBC revelou a existência de uma rede internacional suspeita de desviar milhões de dólares arrecadados em campanhas online que afirmavam financiar o tratamento de crianças com câncer em diferentes países. Segundo a apuração, famílias em situação de extrema vulnerabilidade foram utilizadas em vídeos e materiais promocionais, mas não receberam os valores que constavam como arrecadados nas plataformas de doação.

A reportagem identificou ao menos 15 famílias, em países como Filipinas, Colômbia, Ucrânia e Gana, que afirmam ter recebido pouco ou nenhum recurso, apesar de campanhas associadas aos seus filhos indicarem arrecadações que, somadas, ultrapassam US$ 4 milhões. Em alguns casos, os responsáveis sequer sabiam que as campanhas haviam sido publicadas em seus nomes.

Vídeos encenados e promessas não cumpridas

De acordo com os relatos reunidos pela BBC, as famílias eram procuradas por intermediários que se apresentavam como representantes de organizações humanitárias internacionais. As crianças eram filmadas em ambientes montados, com roteiros previamente definidos, e orientadas a demonstrar sofrimento para sensibilizar potenciais doadores.

As promessas feitas incluíam apoio financeiro contínuo e cobertura dos custos médicos. No entanto, após a divulgação dos vídeos e a arrecadação dos valores, o contato com os organizadores era interrompido ou acompanhado de alegações de que as campanhas não haviam tido sucesso, mesmo quando os dados públicos indicavam o contrário.

Organizações e conexões internacionais

A investigação apontou que diversas campanhas estavam vinculadas a uma entidade chamada Chance Letikva, registrada em Israel e nos Estados Unidos, além de outras organizações com nomes semelhantes. A BBC encontrou indícios de que essas entidades operavam de forma fragmentada, criando novas organizações conforme as anteriores perdiam credibilidade ou deixavam de funcionar.

Documentos e registros analisados pelos jornalistas indicam a presença de um mesmo nome em diferentes estruturas institucionais, sugerindo uma possível coordenação central das campanhas. Procuradas pela BBC, as organizações citadas e pessoas mencionadas na investigação não responderam aos pedidos de esclarecimento.

Dúvidas sobre o destino do dinheiro

Um dos principais pontos levantados pela apuração é a falta de transparência sobre o destino das doações. Em alguns casos, os organizadores alegaram que os recursos teriam sido consumidos por custos de publicidade. Especialistas em filantropia ouvidos pela BBC afirmam, no entanto, que gastos com divulgação não deveriam ultrapassar uma fração do total arrecadado, o que não explicaria a ausência de repasses às famílias.

As campanhas investigadas continuavam ativas e recebendo doações mesmo após a morte de algumas das crianças envolvidas, o que ampliou os questionamentos sobre a gestão e a legitimidade dessas iniciativas.

Alerta a doadores e autoridades

Autoridades reguladoras de organizações sem fins lucrativos em países como Israel e Reino Unido informaram que entidades podem perder o registro caso seja comprovado o uso de estruturas beneficentes para encobrir atividades ilegais. Órgãos de controle recomendam que doadores verifiquem o registro oficial das instituições, busquem informações sobre prestação de contas e desconfiem de campanhas excessivamente apelativas ou com pouca transparência.

A investigação da BBC reacende o debate sobre a necessidade de maior fiscalização de plataformas de arrecadação online, especialmente aquelas que operam em escala internacional e lidam com causas sensíveis, como doenças graves envolvendo crianças.

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