Após mais de 20 anos de negociações, governo enfrenta desgaste diplomático e impasses que expõem fragilidades da política externa
Por Ana Raquel |GNEWSUSA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconheceu, neste sábado (20), frustração com o novo adiamento da assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, negociado há mais de duas décadas. As declarações foram feitas durante a cúpula do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu (PR), em um momento marcado por entraves diplomáticos e crescente pressão política dentro do bloco europeu.
Lula afirmou que havia expectativa de concluir o acordo ainda neste fim de semana, mas admitiu que a falta de consenso entre países da União Europeia inviabilizou o avanço. Na última quinta-feira (18), o bloco europeu comunicou oficialmente que a assinatura foi adiada para janeiro de 2026, após solicitação da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.
Resistência europeia e desgaste nas negociações
Segundo o presidente brasileiro, nos últimos dias houve contatos diretos com a cúpula da União Europeia. Lula relatou ter recebido apelos da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, António Costa, para que o Mercosul aceitasse novos ajustes no texto do tratado.
Apesar disso, Lula afirmou que os países sul-americanos já fizeram concessões significativas ao longo dos anos e que o bloco não pode ser responsabilizado pelos sucessivos adiamentos. De acordo com o presidente, exigências ambientais, comerciais e regulatórias impostas pela União Europeia foram atendidas, enquanto resistências internas de governos europeus seguem travando a conclusão do acordo.
O chefe do Executivo brasileiro destacou ainda que, apesar da boa relação pessoal com o presidente da França, Emmanuel Macron, o governo francês continua pressionado por produtores rurais contrários ao tratado. Lula disse apostar em um eventual apoio da Itália para destravar o processo, avaliando que a França teria dificuldades para barrar sozinha a assinatura.
Críticas à política externa e alerta geopolítico
Além do tema comercial, Lula aproveitou o discurso para fazer críticas à atuação dos Estados Unidos no Caribe, sem citar nominalmente o presidente Donald Trump, mas apontando o que classificou como postura intervencionista na região. Segundo ele, movimentos recentes reacendem preocupações históricas na América do Sul.
O presidente alertou para os riscos de uma escalada de tensões envolvendo a Venezuela e afirmou que uma eventual intervenção armada representaria uma crise humanitária de grandes proporções, além de criar precedentes perigosos no cenário internacional. Lula defendeu maior autonomia dos países latino-americanos nas decisões estratégicas e econômicas.
Impacto econômico e discurso político
Apesar de tratar o acordo com a União Europeia como prioridade em seus discursos, o governo Lula acumula dificuldades concretas para avançar na conclusão do tratado, negociado há mais de duas décadas. O novo adiamento ocorre em um momento de desgaste da política externa brasileira, marcada por entraves diplomáticos, concessões sucessivas e ausência de resultados práticos.
A União Europeia segue como o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com fluxo estimado em US$ 92 bilhões em 2023. No entanto, projeções oficiais sobre impactos positivos do acordo permanecem hipotéticas, uma vez que a assinatura do tratado continua sendo postergada.
Analistas avaliam que a incapacidade de concluir o acordo expõe fragilidades na articulação internacional do governo, além de evidenciar o peso de disputas políticas internas na Europa e a falta de uma estratégia eficaz para superar resistências históricas, especialmente nos setores agrícola e ambiental.
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