Estratégia baseada no programa Hearts já está ativa em 33 países e fortalece o cuidado primário contra hipertensão, principal fator de risco cardíaco na região
Por Paloma de Sá |GNEWSUSA
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) lançou um novo Quadro de Qualidade voltado ao fortalecimento dos cuidados cardiovasculares nas Américas. Publicada no boletim médico The Lancet – edição das Américas, a iniciativa oferece orientações práticas para aprimorar o atendimento na atenção primária, com potencial de prevenir mais de 400 mil mortes e 2,4 milhões de hospitalizações até 2030.
A proposta integra o programa Hearts nas Américas, adaptação regional da estratégia global da Organização Mundial da Saúde (OMS), e tem como foco central o enfrentamento da hipertensão arterial — conhecida como o “assassino silencioso” — além da redução de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
Atualmente, as doenças cardiovasculares seguem como a principal causa de morte nas Américas, afetando mais de 2,2 milhões de pessoas por ano, muitas delas em idade economicamente ativa. A hipertensão arterial é o principal fator de risco, atingindo quase quatro em cada 10 adultos na região. Apesar da existência de tratamentos eficazes e de baixo custo, apenas cerca de um terço dos pacientes consegue manter a pressão sob controle.
Guia prático para aplicação imediata
O novo Quadro de Qualidade Hearts foi desenvolvido como um manual operacional, com orientações que podem ser aplicadas imediatamente pelos sistemas de saúde. Segundo o diretor da Opas, Jarbas Barbosa, a hipertensão “continua a ser a ameaça à saúde mais mortal do mundo, mas também uma das mais controláveis”.
De acordo com ele, o documento vai além de recomendações teóricas. “Não se trata apenas de mais um texto político, mas de um guia prático que já está salvando vidas em milhares de unidades de saúde comunitárias”, afirmou.
O modelo foi construído a partir de experiências comprovadas em diferentes países e busca enfrentar gargalos recorrentes no tratamento da hipertensão, como:
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medições imprecisas da pressão arterial devido ao uso de equipamentos obsoletos;
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oferta irregular de medicamentos essenciais;
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esquemas terapêuticos abaixo do ideal;
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consultas frequentes limitadas à renovação de receitas, sem acompanhamento clínico efetivo.
Soluções estruturais e fortalecimento da equipe de saúde
Entre as principais estratégias propostas estão a adoção de monitores de pressão arterial automatizados e validados, garantia de fornecimento contínuo de medicamentos de qualidade a preços acessíveis e prescrição para períodos mais longos, reduzindo a necessidade de visitas mensais desnecessárias.
O Quadro de Qualidade também prevê a capacitação de enfermeiros para ajuste de doses de medicamentos, além do uso de ferramentas simples de acompanhamento mensal, permitindo monitorar a evolução dos pacientes de forma sistemática.
Atualmente, o Hearts nas Américas está ativo em 33 países, abrangendo cerca de 10 mil unidades de atenção primária. Mais de 6 milhões de pessoas já são acompanhadas por meio de protocolos padronizados.
Meta 80-80-80 e impacto comprovado
O programa apoia a chamada meta 80-80-80, que prevê:
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diagnosticar 80% das pessoas com hipertensão;
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tratar 80% das pessoas diagnosticadas;
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controlar a pressão arterial de 80% dos pacientes em tratamento.
Segundo estimativas da Opas, alcançar essa meta poderia evitar mais de 400 mil mortes e 2,4 milhões de internações hospitalares até 2030 em toda a região.
Resultados concretos já foram observados em diversos países. Em Matanzas, Cuba, a taxa de controle da hipertensão saltou de 36% para 58% em apenas um ano. No Chile, o índice passou de 37% para 65%. Estudos de custo-efetividade indicam que os investimentos no programa são compensados em menos de dois anos, ao evitar eventos cardiovasculares de alto custo.
Experiências positivas também foram registradas na Colômbia, México, Trinidad e Tobago, entre outros países. Na República Dominicana, o Hearts é prioridade governamental, garantindo tratamento a milhões de pessoas. El Salvador expandiu o programa para toda a sua rede de atenção primária, alcançando taxas de acompanhamento próximas de 70%, enquanto o México iniciou a implementação em escala nacional.
Com base nesses resultados, a Opas reforça que o novo Quadro de Qualidade representa um passo estratégico para reduzir mortes evitáveis, fortalecer os sistemas de saúde e ampliar o acesso a cuidados cardiovasculares eficazes em toda a região das Américas.
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